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Levantamento mostra realidade da população trans no Rio de Janeiro

Os números impressionam: 83% dos entrevistados no Rio de Janeiro afirmam já terem sofrido violência dentro da escola, e dois em cada três já sofreram violência por serem trans.

Os dados resultam de entrevistas feitas com 526 pessoas trans e travestis cadastradas na primeira etapa do projeto Garupa,  realizada entre julho e outubro de 2021 pela Prefeitura do Rio. A iniciativa foi da Secretaria Municipal de Governo e Integridade Pública (Segovi), por meio da Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e a Coordenadoria-Geral de Relações Internacionais e Cooperação.

O levantamento incluiu perguntas sobre a realidade socioeconômica, a escolaridade e o acesso ao mercado formal de trabalho da população trans e travesti carioca.  Entre outros dados, o projeto apontou que um a cada três entrevistados faz apenas uma refeição por dia ou menos, e que 72% dos participantes deixaram de estudar devido a dificuldades financeiras ou à falta de dinheiro.

– Dentro da comunidade LGBTI+, as pessoas trans e travestis são as que enfrentam as maiores barreiras de acesso à saúde, ao trabalho formal e a condições dignas de vida, e estudos apontam que a pandemia agravou ainda mais este cenário. Estes dados dão um panorama de como ainda há muito a se fazer em prol destas pessoas e poderão servir de base para inúmeras políticas públicas. A sociedade não pode fechar os olhos para a realidade de quem mais necessita de oportunidades – afirmou o coordenador executivo da Diversidade Sexual, Carlos Tufvesson.

As entrevistas foram realizadas no âmbito do primeiro trimestre do projeto Garupa, cujo objetivo foi de facilitar o acesso da população trans e travesti à saúde, por meio do acompanhamento até a vacinação contra a Covid-19 e da orientação sobre os serviços municipais. Ao todo, foram 723 pessoas trans e travestis atendidas pelo programa nesta primeira etapa. Dessas, 526 participaram integralmente do levantamento.

A ação, que envolveu agentes trans e travestis atuantes em todas as áreas programáticas da cidade, foi uma das 18 selecionadas para participarem do “Partnership for Healthy Cities: Covid-19 Response” (em português: “Parceria para Cidades Saudáveis: Resposta para a Covid-19), iniciativa liderada pela Bloomberg Philanthropies em parceria com a Organização Mundial da Saúde e a Vital Strategies, que concedeu ao Rio de Janeiro US$ 50 mil para a execução do programa. A segunda etapa do projeto está prevista para ser lançada ainda no primeiro semestre deste ano.

– Estabelecer políticas públicas de promoção da dignidade de todas as pessoas só é possível por meio do comprometimento com a garantia do acesso delas à renda, à saúde, à cultura e à educação. A partir do Garupa, pavimentamos este caminho que vem sendo construído pela Prefeitura do Rio com o objetivo de assegurar e ampliar os direitos da população trans e travesti, que merece toda a atenção do poder público – disse o secretário municipal de Governo e Integridade Pública, Tony Chalita.

Confira os principais destaques do levantamento:

TRABALHO E RENDA 

60% DOS ENTREVISTADOS TÊM RENDA MENSAL INCERTA OU INSUFICIENTE

Pergunta: Você possui uma renda mensal suficiente para sobreviver?

Respostas:

Sim, suficiente – 40%

Depende do mês – 39%

Sempre passo necessidade – 8%

Não tenho nenhuma renda – 13%

71% JÁ SOFRERAM PRECONCEITO DURANTE ENTREVISTA DE EMPREGO

Pergunta: Você já sofreu preconceito durante uma entrevista de emprego?

Respostas:

Sim, mais de uma vez – 71%

Sim, apenas uma vez – 0%

Nunca – 29%

27% NUNCA TIVERAM VÍNCULO DE TRABALHO

Pergunta: Você já possuiu algum vínculo de trabalho?

Respostas:

Nunca – 27%

Sim, sem me assumir no trabalho – 30%

Sim, me assumindo no trabalho – 43%

37% ACREDITAM QUE NÃO HÁ VAGAS FORMAIS DE TRABALHO PARA PESSOAS LGBTI+

Pergunta: Você acha que existem oportunidades de emprego para LGBTI+?

Respostas:

Sim, em muitas empresas – 3%

Sim, em poucas empresas – 59%

Sim, em empregos públicos – 0%

Sim, como empreendedores – 1%

Não, somente trabalho informal – 37%

UMA EM CADA TRÊS FAZ APENAS UMA REFEIÇÃO POR DIA OU MENOS

Pergunta: Você come de forma regular?

Respostas:

Não – 11%

Uma vez por dia – 22%

Mais de uma vez por dia – 67%

ESCOLARIDADE 

DUAS EM CADA CINCO NÃO TERMINARAM A ESCOLA

Você estudou até que ano?

Primeiro grau – 20%

Primeiro grau incompleto – 6%

Segundo grau incompleto – 13%

Segundo grau – 42%

Superior – 20%

83% JÁ SOFRERAM VIOLÊNCIA DENTRO DA ESCOLA

Pergunta: Você já sofreu violência dentro da escola?

Respostas:

Sim, por amigos, na minha infância e adolescência – 44%

Sim, por amigos, na adolescência – 22%

Sim, por amigos e professores, na minha infância e adolescência – 11%

Sim, por amigos e professores, na adolescência – 6%

Nunca sofri violência na escola – 17%

RENDA E PRECONCEITO SÃO OS PRINCIPAIS MOTIVOS PARA PARAREM DE ESTUDAR

Pergunta: Por que você parou de estudar?

Respostas:

Não estudei mais por falta de dinheiro – 43%

Não estudei mais por falta de tempo – 0%

Não estudei mais por falta de oportunidade – 14%

Não estudei mais por causa do preconceito – 29%

Nunca gostei de estudar – 0%

Estou estudando no momento – 14%

83% GOSTARIAM DE VOLTAR A ESTUDAR

Pergunta: Você tem vontade de voltar aos estudos?

Respostas:

Sim, gostaria de concluir meus estudos – 22%

Sim, gostaria de complementar meus estudos – 56%

Sim, mas não sei o que devo estudar – 6%

Não, eu não quero mais estudar – 17%

DUAS EM CADA TRÊS GOSTARIAM DE APRENDER ALGUM CONTEÚDO PROFISSIONALIZANTE

Pergunta: O que você gostaria de aprender no seu tempo livre?

Respostas:

Conteúdo para complementar a formação escolar – 11%

Conteúdo profissionalizante – 66%

Conteúdo para aprender mais sobre mim – 10%

Conteúdo sobre algum hobby – 3%

Conteúdo para ajudar os outros – 11%

TRANSFOBIA E SAÚDE

DUAS EM CADA TRÊS JÁ SOFRERAM VIOLÊNCIA POR SER TRANS

Pergunta: Você já foi vítima de violência por ser trans?

Respostas:

Nunca – 32%

Até 2 vezes – 30%

Mais de duas vezes – 37%

29% TOMAM HORMÔNIOS POR CONTA PRÓPRIA

Pergunta: Você sabia que existe um programa voltado para hormônio-terapia assistida pelo SUS?

Respostas:

Sim, eu participo/ participei no passado – 29%

Sim, mas nunca participei – 43%

Sim, tomo por conta própria – 0%

Não, tomo por conta própria – 29%

Não tenho interesse – 0%

56% NUNCA RECEBERAM ORIENTAÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE PÚBLICA SOBRE HORMÔNIOS OU SILICONE

Pergunta: Você já procurou o serviço de saúde pública para receber orientação sobre hormônios ou uso de silicone?

Repostas:

Sim, já procurei e fui atendido – 44%

Sim, já procurei e não fui atendido – 21%

Não, não sei onde procurar – 13%

Não, nunca me interessei – 16%

Não, achei que não podia – 6%

ATÉ O FIM DO PROJETO, 79% TINHAM TOMADO PELO MENOS UMA DOSE DA VACINA

Pergunta: Você tomou a vacina contra a Covid-19?

Respostas:

Sim, a primeira dose – 54%

Sim, primeira e segunda doses (ou dose única) – 25%

Não – 20 %

Não quero tomar – 1%

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