“Não conquistamos a categoria de humanidade, ainda somos coisificadas”, diz Duda Salabert, em evento em Brasília

Autoridades públicas promovem diálogo entre os Poderes e Políticas para as mulheres

Na manhã desta quarta-feira (29), autoridades públicas e do setor privado reuniram-se em Brasília para promover o diálogo entre os Poderes e Políticas para as mulheres. O encontro foi organizado pelo Instituto de Estudos Jurídicos Aplicados (IEJA). No evento, mulheres ligadas à política e à gestão pública defenderam políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, desigualdades racial, de gênero e no mercado de trabalho.

Hello Bet
Hello Bet

O encontro foi aberto por Fabiane Oliveira, fundadora e presidente do IEJA, que destacou a necessidade do despertar de posicionamento da força feminina. Já a Ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara ressaltou o preconceito, racismo e machismo na sociedade, que a todo momento tem questionado a capacidade feminina, sobretudo da mulher indígena. “Precisamos superar a barreira cultural, onde mulheres possam alcançar lugares de poder. Eu como ministra sou um exemplo. Após 90 anos de luta, hoje temos mulheres no judiciário e também conquistamos um ministério. Enquanto liderança indígena é preciso se juntar e se fortalecer para ser reconhecida. Só a luta muda a vida, pois ainda há um número desigual na política no nosso país”, reforçou.
 

Em sua fala, a deputada federal Maria do Rosário destacou a violência política de gênero e o atual período de transformação. “Nosso desafio é imenso. Não estamos apenas por nós queremos que o mundo seja digno, essa é a essência do ser feminino”, enfatizou. A deputada pediu mais união, ainda que com 91 mulheres presentes hoje na Câmara, o que é um número pequeno para a diversidade feminina no Brasil.
 

No painel sobre violência contra a mulher, a ministra das Mulheres Cida Gonçalves destacou a epidemia de violência contra as mulheres no país, chamando a sociedade para esse combate. “O ministério tem como prioridade o enfrentamento ao feminicídio e misoginia, precisamos fazer uma marcha em prol da paridade e promover o debate público, pois o ódio não cabe mais, mas somente a democracia e respeito pelas mulheres”.

A deputada federal Benedita da Silva ressaltou como constituinte, a luta pela igualdade, o movimento racial e feminista como mulher negra, vinda da favela, que no início da sua vida pública como vereadora no Rio de Janeiro foi muitas vezes imposto que ela não poderia chegar a Brasília. Hoje, em meio a tantos desafios, Benedita reforçou seu trabalho na causa das minorias e mulheres negras. “Necessitamos de um novo ordenamento jurídico. A lei Maria da Penha ainda não é suficiente, dado o nível de feminicídio atual”, lembrou.

Para debater a desigualdade de gênero, a deputada federal Duda Salabert trouxe ao debate dados impactantes sobre os mapas subnotificados por entidades privadas, uma vez que o Estado não coleta dados por não haver interesse. “Nós, trans, não conquistamos a categoria de humanidade, ainda somos ‘coisificadas´”, exemplificou. O Brasil é o país que mais mata trans no planeta há 14 anos. Sendo que 80% dos assassinatos, categorizados como violência hiperbolizada e 83% contra trans negras.
 

“É raro uma travesti que esteja no mercado formal de trabalho”, pontuou Salabert, que como professora, fez questão de dizer que “está” como deputada federal, justamente para construir uma plataforma para vocalizar aos parlamentares e criar consciência na sociedade.
 

Symmy Larrat, Secretária Nacional dos direitos da população LGBTQIA+ citou as estatísticas sobre violência e suicídio, segundo relatórios e estudos produzidos pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Conforme a Antra, entre os anos de 2017 e 2022 ocorreram um total de 912 assassinatos de pessoas trans e não binárias brasileiras, sendo 131 casos somente em 2022. Segundo a secretária, a maioria dessas pessoas foram assassinadas no exercício profissional e aproximadamente 80% delas eram travestis. “Eu quero que, daqui a alguns anos, a gente comece a perceber que não somos mais a primeira nem a única, mas, sim, várias nesse lugar. Dói dizer que somos as primeiras”, falou