Chacina da Candelária: espetáculo relembra 30 anos do crime que chocou o Brasil

As apresentações serão realizadas na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema

O ano de 2023 é marcado pelos 30 anos da chacina da Candelária, quando oito jovens foram assassinadas enquanto dormiam em frente à Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. A Trupe Investigativa Arroto Cênico, da cidade de Nova Iguaçu, realizou uma intensa pesquisa dramatúrgica sobre a chacina e fará nova temporada do espetáculo “Candelária”, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, entre os dias 1º e 23 de agosto, às terças-feiras e quartas-feiras, sempre às 20 horas. A peça já realizou 2 temporadas contempladas no Edital FOCA – Fomento à Cultura Carioca 2021 e um circuito de apresentações através do Edital Retomada Carioca RJ 2 da SECEC.

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Com dramaturgia de Karla Muniz Ribeiro e direção de Madson Vilela, o espetáculo remete ao crime de julho de 1993, mas também fala sobre o genocídio da população negra, se tornando um espetáculo manifesto que propõe uma discussão cênica a respeito da política de embranquecimento social que perdura até hoje no país.

O roteiro do espetáculo faz três recortes cênicos com base em dados históricos: Em 1525, o Brasil recebeu o primeiro navio negreiro, com negros africanos desembarcando forçosamente em terras nacionais, famílias separadas, catequização, nomes trocados e trabalho não remunerado seguido de torturas. Em 1911, uma comitiva brasileira vai até Londres participar do Congresso Universal das Raças com o intuito de doar terras, dinheiro e passagem a europeus que quisessem morar no Brasil, com o único objetivo de embranquecer a população e com planejamento de, no ano de 2012, extinguir a população negra. E, em 1993, crianças negras são mortas na cidade do Rio de Janeiro. O que esses três momentos da história do Brasil têm em comum? Esse é o mote dramático deste projeto.

“O projeto de genocídio e extermínio da população negra brasileira ganha cada vez mais força. E, com “Candelária”, nós queremos contar/dizer/gritar que esse projeto, que começou lá atrás, com o primeiro ancestral negro sequestrado e trazido para cá, passou por vários períodos da nossa história, cada vez ganhando mais força, seguindo seu curso e nós precisamos pará-lo. E o teatro é a nossa arma de denúncia. Nenhuma forma de comunicação é tão direta como o teatro. Através dele é possível refletir sobre questões que, de outra forma, teríamos imensa dificuldade de explanar e exemplificar, ou até mesmo de atingir com a mesma precisão e impacto do significado pretendido”, afirma Karla Muniz Ribeiro, dramaturga e atriz do espetáculo. 

No elenco, além de Karla Muniz Ribeiro, também estão Jonathan Silva, Simone Cerqueira e Madson Vilela, artistas negros e periféricos que fundamentam a proposta, uma vez que constantemente sofrem o apagamento de sua arte numa cena carioca formada, na maioria das vezes, por artistas brancos. A montagem segue os moldes do Teatro Contemporâneo, numa encenação fragmentada que utiliza recursos que potencializam o espetáculo. 

Para Madson Vilela, diretor e ator do espetáculo, os coletivos teatrais da Baixada Fluminense vêm, nos últimos anos, mostrando fôlego para romper barreiras que antes cerceavam a difusão da produção de espetáculos da região. Ainda segundo ele, isso se dá principalmente pela persistência e trabalho em rede feito pelos artistas e grupos que estão buscando cada vez mais o aprimoramento através das trocas de experiências artísticas. “Dentro desse contexto, a Trupe Investigativa Arroto Cênico vem se firmando como uma das companhias de maior atividade da região. Este espetáculo é um trabalho construído através do afeto. Sempre em roda, a cada encontro, partilhamos nossas vivências e experiências pessoais. Os atravessamentos que nos levaram até ali. E foi aí que tudo se deu: como falar dos nossos, sem falar de nós mesmos? Somos muitos. E é através desses atravessamentos que a cena se constitui”, explica Madson Vilela.

“Passados 30 anos, falar sobre a chacina de crianças e adolescentes pretos no Centro da cidade do Rio de Janeiro é sempre se perguntar: ‘Por quê?’, ‘Por que isso aconteceu?’ e ‘Por que isso continua acontecendo?’. O espetáculo nasceu de várias perguntas e tenta entender o processo de embranquecimento forçado e o genocídio da população preta. E por que falar dos mortos? Porque estar ao lado dos mortos é uma política de memória”, finaliza a dramaturga. 

Ficha técnica

DRAMATURGIA E SUPERVISÃO ARTÍSTICA: Karla Muniz Ribeiro

DIREÇÃO ARTÍSTICA: Madson Vilela

DIREÇÃO MUSICAL E TRILHA SONORA: Kadú Monteiro

COORDENAÇÃO ARTÍSTICA E ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Marcos Covask

ELENCO: Jonathan Silva / Simone Cerqueira / Karla Muniz Ribeiro / Madson Vilela

CONCEPÇÃO CENÓGRAFICA: Marcos Covask

CENOTÉCNIA E ADEREÇOS: Jonathan Silva e Glace Machado

FIGURINISTA: Carla Costa

ASSISTENTE DE FIGURINO: Joyce Olipo

COSTURA CÊNICA: Ateliê Bruta Flor

ILUMINADOR: Bruno Henrique Caverninha

TÉCNICO DE LUZ: João Garaza

ASSESSORIA DE IMPRENSA: Alessandra Costa

PRODUÇÃO EXECUTIVA: Luiz Felipe Machado

ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Erick Galvão e Nathalia Lamim

PROGRAMAÇÃO VISUAL: Leandro Fazolla

FILMAGEM E EDIÇÃO: Guapoz Produções Artísticas / Fernando Dias

FOTOGRAFIA: Camila Curty

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO: Burburinho Cultural

REALIZAÇÃO: Trupe Investigativa Arroto Cênico

SERVIÇO: 

Espetáculo Candelária 

Local: Casa de Cultura Laura Alvim 

Endereço: Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema, Rio de Janeiro 

Data: de 1 a 23 de agosto (terças-feiras e quartas-feiras) 

Horário: 20h 

Lotação: 240 lugares

Ingressos: Meia 20,00 / Inteira: 40,00