Sabe o homem que desafia o interlocutor, que promete a melhor vingança, a vingança que virá no amanhã, na alegria e no amor contra o sofrimento? Esse homem completa 80 anos.
E aquele homem que narra a rotina que vive com a mulher e seus sabores? 80 anos!
Impossível esquecer daquele homem que conta o relacionamento etéreo, parecido com aqueles vistos nas telas de cinema, onde cavalos falam inglês. Afinal, ele faz 80 anos!
Tem ainda o homem que canta o fim trágico de um trabalhador em uma construção. Idade? 80 anos!
É verdade mesmo, o homem que especula o que se passa nas cabeças onde a censura não pode entrar completa 80 anos!
O dono da banda, aquela que canta coisas de amor e sai revolucionando uma cidade inteira, chegou aos 80 anos!
Tem quem goste de vinhos, tem quem prefira cerveja, de preferência, bem longe de cálices, como o homem de 80 anos.
O homem que comenta sobre a vida da gente humilde que vê pela janela, sabe? 80 anos, já!
Não poderia deixar de constar ainda aquele homem que reclama da moça que está diferente, se super modernizando, mas que acredita que ainda gosta dele. É, quem diria, 80 anos!
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Há artistas tão extraordinariamente bons em seu ofício que quando se metem noutros searas acabam ouvindo lamentos como “não precisava disso”, “era melhor continuar na sua [área]”. Talvez precisasse, talvez não, fato é que fizeram e dão aí mais uma contribuição para a arte. Uma, dez, dezenas, quem está contando? Além do mais, reclamar de compositores-cantores é tão demodê, coisa de quando Chico Buarque ainda estava aparecendo, dando as primeiras canetadas e não coisa destes tempos em que o homem, com a carreira consagrada (mais de uma até), com longas contribuições para o cancioneiro nacional, parte da memória afetiva das gentes, completa 80 anos. Que bom termos Chico Buarque, que bom poder ouvir Chico Buarque! Diferente da capa de seu álbum de estreia (Chico Buarque de Hollanda, 1966) que virou meme, não há Chico triste aqui.