Censura

Três anos de repressão: a mídia sob o regime Talibã

Grupo extremista também implementou controles rigorosos sobre as mídias sociais

Foto: Reprodução / Tolo
Foto: Reprodução / Tolo

No terceiro aniversário da tomada de Cabul pelo Talibã, o cenário da imprensa no Afeganistão continua a se deteriorar, conforme revela um balanço das organizações de liberdade de imprensa. Em agosto de 2021, logo após a entrada do grupo fundamentalista no poder, surgiram sinais de que o Talibã poderia tolerar o jornalismo independente e a presença feminina na mídia. No entanto, a realidade revelou um desmonte quase completo da imprensa no país.

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De acordo com a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), mais da metade dos veículos de mídia no Afeganistão desapareceram desde a chegada do Talibã. Quase 80% das jornalistas perderam seus empregos devido às restrições impostas pelo novo regime.

Enquanto muitos profissionais foram forçados ao exílio, os que permaneceram enfrentam um ambiente hostil marcado por ameaças, intimidações e violência.


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Violência e Repressão

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) contabilizou 141 prisões ou detenções de jornalistas nos últimos três anos, embora, no momento, não haja nenhum detido. O coordenador do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) para a Ásia, Beh Lih Yi, descreveu o regime como responsável por “graves injustiças” e destacou que a repressão contínua levou os poucos veículos de mídia restantes a um ponto crítico.

O CPJ revelou que o Talibã deteve pelo menos 16 jornalistas no último ano, além de fechar quatro estações de rádio e TV e banir uma emissora afegã sediada em Londres.

Em 2024, a IFJ reportou a suspensão de 17 licenças de transmissão de meios de comunicação no leste de Nangarhar, e o fechamento de duas estações de TV privadas em Cabul, Noor TV e Barya TV, por alegadas violações dos valores nacionais e islâmicos.

Além disso, o Afghan Independent Journalists Union (AIJU) registrou 85 casos de violência contra jornalistas no ano passado. A situação das mulheres na mídia é especialmente crítica, com apenas 600 jornalistas ativas em março de 2024, uma drástica queda em relação aos 2.833 antes da ascensão do Talibã.

Controle das Redes Sociais

O Talibã também implementou controles rigorosos sobre as mídias sociais, obrigando jornalistas a submeterem suas matérias à aprovação do regime e impedindo a postagem de conteúdos considerados “contrários ao islamismo”. A IFJ observa que as plataformas que desafiam o regime enfrentam censura severa e restrições de acesso.

Célia Mercier, Chefe do Escritório do Sul da Ásia da RSF, lembrou as promessas iniciais do Talibã, que garantiam a liberdade para jornalistas. Contudo, essas promessas foram ignoradas e substituídas por uma repressão implacável.

A RSF condenou as ações do regime e pediu ao líder supremo do Talibã, Mullah Haibatullah Akhundzada, que cesse as prisões de profissionais da mídia e restaure o direito à informação.

Situação Atual

No Global Press Freedom Index da Repórteres Sem Fronteiras, o Afeganistão ocupa o 180º lugar, refletindo a grave situação da liberdade de imprensa no país. O regime do Talibã tem demonstrado uma abordagem opressiva e tirânica, desmantelando sistematicamente a mídia independente e suprimindo a liberdade de expressão.