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Alguns brasileiros pensam em casar com o chat de IA

Alguns indivíduos usam a IA como psicólogos, e parceiros: a OMS já alerta que estamos vivendo uma epidemia da solidão

(Imagem: Criada por Inteligência Artificial)
(Imagem: Criada por Inteligência Artificial)

O avanço das Inteligências Artificiais (IA) trouxe inúmeras possibilidades para resolver problemas cotidianos, otimizar o trabalho e até mesmo fornecer suporte emocional. Um recente levantamento da Talk Inc indica que 1 em cada 10 pessoas utilizam plataformas de IA, como chats, como uma espécie de amigo ou conselheiro. Esse dado levanta um debate urgente sobre os limites emocionais e éticos dessa tecnologia, e como ela está moldando as interações humanas. 

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As IAs vêm ganhando popularidade por sua capacidade de simular conversas inteligentes e empáticas, atendendo prontamente a dúvidas pessoais, profissionais e até mesmo dando conselhos sobre relacionamentos ou decisões de vida, uma espécie de terapia. Mas até que ponto esse processo é saudável? E quais são as implicações éticas quando pessoas começam a criar vínculos emocionais com uma entidade não-humana? 


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Não apenas a IA, mas diversos fatores combinados contribuem para o apego emocional a “quem estiver ali para ouvir”. A OMS declarou em 2023 que vivemos uma epidemia da solidão. Pesquisas nos EUA mostram um enorme declínio no número médios de amigos que jovens possuem (com pessoas declarando não possuir nenhum). “No Brasil também vemos casos de solidão, em pessoas que moram sozinhas ou mesmo pessoas que têm pouco tempo para estar com sua família. Isso estimula uma busca por “alguém” que escuta, está presente o tempo todo, que não julga, que demonstra “empatia”, guarda suas informações e conversa com você, é onde essas pessoas buscam esse conforto com os chats inteligentes”, comenta Carla Mayumi, sócia fundadora da Talk Inc

Embora a IA possa ser útil em muitas situações, o uso frequente dela como uma fonte de conforto emocional pode gerar preocupações. Especialistas alertam para o risco de dependência emocional, onde a confiança excessiva em uma IA pode comprometer o desenvolvimento de relações humanas saudáveis e significativas.

“Casos de afeição mais profunda, como alguém se apaixonar por uma IA, ainda são uma anomalia, mas casos radicais de “namoro” ou “casamento” já estão pipocando na superfície da cultura. O “Afeto Artificial” é uma tendência real, mapeado como tendência pela Talk.Inc e que estaremos acompanhando nos próximos anos. Essa é uma das principais tendências de nosso observatório sobre os futuros da IA”, afirma Tina Brand, cofundadora da Talk.

A raça humana ainda não tem repertório suficiente para entender o efeito criado pela acelerada tendência do “Afeto Artificial”. Aliás, uma das primeiras startups unicórnio a atingir o valor de mais de US$ 1 bilhão usando IA afetiva é a Character.AI, criada por ex-funcionários do Google, e que se embasa em criar companheiros digitais específicos e especializados. A tendência é existirem uma variedade tão grande de assistentes de IA quanto existem de seres humanos. 

Acaba de ser lançada a Hume AI, co-fundada por Alan Cowen, que trabalhava com tecnologias emocionais no Facebook. A empresa é voltada para interfaces de vozes empáticas (“empathic voice interface”) e ele diz que “se especializam em personalidades empáticas que falam da mesma forma que as pessoas, e não como uma assistente AI”. Essa nova tecnologia captura o tom da voz do usuário, então alguém que converse num tom triste ou determinado, a voz irá reagir de acordo com esse tom. 

Tudo isso é um indício de que os Afetos Artificiais realmente chegaram para ocupar um espaço na vida humana, então basta saber como prosseguir para não deixar que a utilização dessas ferramentas se torne algo indispensável para viver em sociedade.