Uma recente declaração de Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB, gerou polêmica ao afirmar que: “Tabata, se mulher votasse em mulher, você ia ganhar no 1º turno. A mulher não vota em mulher, mulher é inteligente.”
A fala, além de questionável do ponto de vista de uma análise sociopolítica, suscita uma reflexão importante sobre o papel das mulheres no poder e como a representatividade feminina pode transformar políticas públicas e impactar a sociedade de forma positiva.
Resumo da Notícia:
- O que: Declaração de Pablo Marçal sobre mulheres não votarem em mulheres.
- Onde: São Paulo, durante a campanha à prefeitura.
- Quem: Pablo Marçal e Tabata Amaral.
- Contexto: Comentário gerou reflexões sobre a participação feminina na política e os desafios da representatividade.
Publicado por @jornaldiariocarioca Ver no Threads
Pesquisas internacionais indicam que a maior presença de mulheres em posições de liderança política está diretamente associada à melhoria de indicadores sociais. Um estudo conduzido pelas economistas Sônia Bhalotra e Irma Clots-Figueras, na Índia, demonstrou que distritos com mais mulheres eleitas apresentaram uma redução significativa na taxa de mortalidade infantil. Além disso, as mesmas regiões registraram uma maior taxa de crianças completando o ensino fundamental, o que evidencia a importância de políticas públicas focadas no bem-estar social e na educação, áreas em que mulheres líderes tiveram um papel essencial.
Em relação às eleições de 2022, o Brasil registrou um aumento na representatividade feminina no Parlamento. Nas Eleições Gerais, 18% dos assentos legislativos foram ocupados por mulheres, um nível melhorado em relação aos 15% registrados em 2018. No entanto, o Brasil ainda está longe de alcançar uma paridade de gênero significativa e ocupa a 129ª posição no ranking mundial de representatividade feminina no parlamento. Este avanço é modesto, mas reflete um crescimento contínuo, embora o país ainda enfrente muitos desafios para aumentar a participação política das mulheres, especialmente quando comparado a países como Ruanda, que liderou o ranking global com 64% de presença feminina no parlamento, mesmo após genocídio em 1994 que vitimou 800 mil pessoas e, estima-se, foi palco de estupros em massa de 200 a 500 mil mulheres.
O comentário de Pablo Marçal sobre as mulheres não votarem em mulheres é uma visão que ignora nuances socioculturais e as barreiras estruturais que historicamente impedem a ascensão feminina em cargos eletivos.
Na verdade, a inclusão de mulheres no poder, como apontam estudos e dados globais, não é uma questão de “inteligência” ao votar, mas sim de mudanças institucionais que permitem às mulheres participarem na vida política.
Diversos estudos apontam que a presença feminina em cargos de liderança traz uma abordagem mais empática e focada no bem-estar social, como foi apresentado em vários países liderados por mulheres durante a pandemia de Covid-19. Nesses casos, os resultados no combate ao vírus foram mais eficazes, o que muitos especialistas atribuem a um estilo de liderança mais colaborativo e aberto ao diálogo.
A economista Iana Barenboim, sócia da Muva, instituição internacional de desenvolvimento socioeconômico, alerta para a necessidade de superar a polarização ideológica nesse debate.
“A questão da igualdade entre homens e mulheres não pode ser capturada por um lado ou outro do espectro político. Foquemos em discussões produtivas, com dados concretos e evidências que mostrem, de forma racional, como a presença feminina no poder pode contribuir para avanços sociais e econômicos, evitando que a polarização e a emoção tomem conta do discurso”, afirma.
Portanto, ao invés de interpretações superficiais e opiniões pessoais, como as de Marçal, é essencial basear a discussão sobre a presença feminina no poder em fatos concretos, estudos e dados que comprovem os impactos positivos dessa inclusão, tanto para a política quanto para o desenvolvimento socioeconômico.
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Sócia da MUVA e a responsável por liderar suas intervenções no Brasil. Com mais de 12 anos de experiência como economista, gerencia projetos de desenvolvimento socioeconômico multimilionários financiados por doadores bilaterais e multilaterais. Anteriormente, foi consultora da Oxford Policy Management, gerenciando projetos de inclusão econômica e desenvolvimento do setor privado, colaborando com empresas de todos os tamanhos. Empreendedora em série, Iana fundou e gerenciou vários negócios e uma ONG no Brasil. Ela é autora do primeiro livro de finanças comportamentais em português, “Decisões Financeiras e o Comportamento Humano”..
Perguntas Frequentes sobre a Participação Feminina na Política
Por que a participação feminina na política é importante?
Estudos mostram que a presença de mulheres em cargos de liderança resulta em políticas mais focadas no bem-estar social, melhorando indicadores como educação e saúde pública.
O Brasil tem uma boa representatividade feminina no parlamento?
Embora tenha havido avanços, o Brasil ocupa apenas a 129ª posição no ranking global de representatividade feminina, com 18% de mulheres no Parlamento.
Quais são os desafios que as mulheres enfrentam para entrar na política?
Além das barreiras culturais, as mulheres enfrentam limitações institucionais e falta de incentivos que dificultam sua ascensão a cargos eletivos.
O que dizem os especialistas sobre a representatividade feminina?
Especialistas, como Iana Barenboim, destacam que a inclusão feminina na política é essencial para promover mudanças positivas e melhorar a qualidade das políticas públicas.
A Muva é uma instituição sul global que trabalha pela inclusão produtiva de jovens e mulheres. Foi criada em 2015 pela Oxford Policy Management com financiamento de 20 milhões de libras ou 140 milhões de reais da UKAID, instituição de desenvolvimento internacional do Reino Unido. Devido aos seus resultados extraordinários, a organização se tornou independente em 2020 com o apoio da UKAID, atuando no sul global, majoritariamente na África, incluindo em projetos com Banco Mundial, União Europeia, Banco Francês de Desenvolvimento e ONU. A MUVA chega no Brasil em 2024 e gerencia projetos incluindo com a Fundação Itaú e a Cooperação Alemã.