Seis pessoas foram contaminadas com o vírus HIV após cirurgias de transplante de fígado, rins e coração realizadas no Estado do Rio de Janeiro. Dois dos doadores eram soropositivos, mas os exames realizados pelo laboratório responsável testaram negativo para a presença do vírus.
De acordo com informações obtidas pelos jornalistas Rodolfo Schneider e Agatha Meirelles, da rádio “BandNews”, o número de pessoas infectadas pode chegar a 600. O primeiro caso foi notificado em 30 de setembro, e é a primeira vez que uma situação como essa acontece no Brasil. A falha teria ocorrido durante o processo de autorização e realização dos transplantes.
Neste caso, o procedimento inicial começa no atestado de morte encefálica do potencial doador. Após o contato com a família e a obtenção da autorização para realizar a cirurgia, o doador passa por análise clínica e biológica. Foi nesta etapa em que a falha foi cometido.
Conforme apurado pela BandNews, um dos pacientes que recebeu o transplante de coração apresentou sintomas de mal-estar nove meses após a cirurgia. Ao procurar atendimento médico, foi diagnosticado com HIV. A partir dessa notificação, outros 288 pacientes estão sendo testados pelo Hemorio para verificar se também foram infectados.
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Após a descoberta, a Secretaria de Estado de Saúde iniciou um rastreamento dos pacientes que receberam os órgãos transplantados. O laboratório PCS, responsável pelos exames, possui contrato com o governo estadual desde 2021 e foi contratado para realizar os procedimentos de transplante, que custaram R$ 11 milhões.
O laboratório foi interditado pela Anvisa após fiscalização, que identificou irregularidades, incluindo a falta de kits para exames.
O que diz os envolvidos
Em contato com o Diário Carioca , a PCS laboratórios informou que O laboratório PCS Lab abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969.
O laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado. Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso.
Em nota enviada ao DC, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou o ocorrido e considerou o caso “inadmissível” e afirmou que “uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados”. Segundo a SES, medidas imediatas foram adotadas para garantir a segurança dos transplantados. O laboratório privado, contratado por meio de licitação pela Fundação Saúde, teve o serviço “suspenso logo após a ciência do caso” e foi “interditado cautelarmente”. A partir de então, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.
Além disso, a Secretaria informou que está conduzindo “um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores”, a partir de dezembro de 2023, data em que o laboratório foi contratado. Uma sindicância foi instaurada para identificar os responsáveis, e a SES destacou que, por questões de sigilo, “não serão divulgados detalhes das circunstâncias”.
A SES também frisou que essa é uma situação inédita, ressaltando que o serviço de transplantes no estado do Rio “sempre realizou um trabalho de excelência” e, desde 2006, “salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.
O Ministério da Saúde determinou a instalação de “auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) em todo o sistema de transplante do Rio, e a apuração de eventuais irregularidades na contratação do referido laboratório, entre outras providências”.