Um relatório elaborado pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) discute os impactos das eleições presidenciais nos Estados Unidos sobre a liberdade de imprensa. O documento, divulgado a menos de um mês do pleito, destaca que o resultado da disputa entre Donald Trump e Kamala Harris não afetará apenas a democracia americana, mas também terá repercussões globais sobre a segurança dos jornalistas.
O relatório enfatiza que, ao longo dos últimos 30 anos, as mudanças nas políticas norte-americanas têm sido utilizadas como justificativa para restrições à liberdade de imprensa em diversos países.
O CPJ ressalta que a retórica de “fake news” promovida por Donald Trump serviu de exemplo para líderes autoritários, permitindo a descredibilização da mídia. O Brasil, segundo o documento, foi um dos países mais impactados por essa tendência.
Durante a gestão de Jair Bolsonaro, que adotou uma postura populista semelhante à de Trump, o CPJ registra um aumento na violência contra jornalistas e em campanhas de difamação.
O relatório menciona que Bolsonaro chegou a ser chamado de “Trump dos Trópicos” e replicou a retórica agressiva contra a imprensa, além de realizar acusações infundadas de fraude eleitoral. O documento cita que essa retórica culminou no ataque ao Congresso brasileiro em 2023.
Cristina Zahar, coordenadora do CPJ na América Latina, afirmou que Bolsonaro utilizou a experiência de Trump como uma “carta branca” para líderes populistas. Roberson Alphonse, editor-chefe do jornal haitiano Le Nouvelliste, também destaca a periculosidade da retórica de Trump ao chamar jornalistas de “inimigos do povo”, observando que essa abordagem tem sido amplamente replicada.
O relatório também aponta que as medidas antiterrorismo dos EUA, implementadas após os atentados de 11 de setembro, inspiraram restrições à imprensa em outros países. O documento menciona que na Rússia, a legislação foi utilizada para justificar a repressão a reportagens críticas, impactando a liberdade de imprensa de forma significativa.
Ao analisar os candidatos, o relatório compara as abordagens de Trump e Harris em relação à mídia. Enquanto Trump adota uma postura hostil, o discurso de Harris sugere um relacionamento mais civilizado.
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A troca recente de prisioneiros entre os EUA e a Rússia, que incluiu jornalistas, foi interpretada como um sinal de que a administração Biden-Harris valoriza os direitos humanos e a liberdade de imprensa.
Futuro da imprensa
O futuro da imprensa independente, segundo o CPJ, pode depender do resultado das eleições nos EUA. O relatório aponta que a vitória de Trump poderia impactar o financiamento de redes de mídia globais que são essenciais para fornecer notícias imparciais.
O documento finaliza destacando que jornalistas em todo o mundo estão acompanhando a eleição com apreensão, cientes das consequências que uma vitória de Trump ou Harris pode trazer para a liberdade de imprensa e a segurança dos profissionais da mídia em escala global.
“Com tantos riscos em jogo, não é surpresa que jornalistas em todo o mundo estejam acompanhando a eleição nos EUA com grande apreensão, temendo as repercussões que uma presidência de Trump ou Harris pode ter para a liberdade de imprensa e a segurança dos profissionais da mídia em escala global”, aponta o documento.