O governo brasileiro ficou sem vacinas da Covid-19 para a entrega imediata após a perda de validade de aproximadamente 33% do lote adquirido da farmacêutica Moderna. O fato ocorreu no Ministério da Saúde, o que gerou a necessidade de troca de parte do estoque.
Com a redução na entrega das doses, a pasta, liderada por Nísia Trindade, afirmou que atualmente não há vacinas disponíveis, especialmente para o público infantil. Nos últimos meses, a quantidade de imunizantes disponíveis caiu, e o ministério reconhece que os estados e municípios enfrentam escassez.
Os lotes afetados fazem parte de um contrato que previa 12,5 milhões de vacinas da Moderna, adaptadas à variante XBB, por R$ 725 milhões. Deste total, o ministério conseguiu repassar 8,26 milhões de doses aos estados, enquanto cerca de 4,2 milhões permaneceram em estoque e foram consideradas perdidas.
A Moderna já iniciou o recolhimento de 1,2 milhão de vacinas com o ministério, com a promessa de substituir as doses por outras com validade mais longa. Documentos internos da Saúde indicam que aproximadamente 3 milhões de vacinas restantes, que também estão vencidas, devem ser trocadas em dezembro por um novo modelo da farmacêutica, adaptado à cepa JN.1.
O plano inicial do ministério visava acelerar a vacinação contra a Covid-19 neste ano, mas a formalização do contrato foi feita tardiamente. As entregas começaram apenas em maio. Além disso, a Moderna entregou vacinas com validade inferior à estipulada no contrato, o que levou o ministério a solicitar, em agosto, a troca das doses que estavam prestes a vencer.
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Novo lote
No final de setembro, a Anvisa autorizou a importação de 1,2 milhão de vacinas com validade até 2025, para substituir os lotes já recolhidos. Essas novas doses precisam passar por controle de qualidade antes da distribuição.
Fatores como a validade das vacinas e a necessidade de temperaturas de armazenamento rigorosas complicaram a campanha de imunização. Eder Gatti, diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI), comentou que, apesar do planejamento do ministério, imprevistos na cadeia de abastecimento geraram desabastecimento.
As entregas das vacinas da Moderna começaram com 3,55 milhões em maio e caíram para 2,17 milhões em junho, 866 mil em julho, 1,1 milhão em agosto e 550 mil em setembro. Dados do ministério indicam que apenas 3,1 milhões das vacinas entregues foram aplicadas, representando menos da metade do total disponível
A Adium, empresa que representa a Moderna, afirmou que substituirá todas as vacinas próximas do vencimento e que parte dessa substituição já foi feita recentemente. A empresa também garantiu que as vacinas foram entregues dentro do prazo de validade.
O governo planejava adquirir 70 milhões de doses atualizadas para 2024, mas somente firmou o contrato com a Moderna. O ministério também realizou um pregão para registrar preços de 69 milhões de doses, com o Instituto Serum, da Índia, e a Pfizer vencendo a disputa, embora os contratos ainda estejam em negociação.
Críticas
As críticas ao governo de Lula surgiram em resposta ao atraso na compra dos imunizantes, que se tornou um tema relevante na campanha eleitoral de 2024. Eder Gatti destacou que grupos negacionistas fizeram ataques sistemáticos à vacinação infantil, dificultando a campanha do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em setembro, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) divulgou um estudo que mostrou que 770 dos 2.415 prefeitos que responderam à pesquisa relataram falta de vacinas destinadas ao público infantil. O ministério admitiu a escassez e afirmou que alguns lotes se aproximaram do vencimento, levando à solicitação de substituição.
Além disso, o jornal “Folha de São Paulo” revelou que o governo perdeu pelo menos 80% de um lote de 10 milhões de vacinas Coronavac, adquiridas tardiamente em 2023, resultando em um prejuízo superior a R$ 260 milhões. Eder Gatti declarou que o plano do ministério é regularizar as compras e garantir a oferta contínua de vacinas para imunizações de rotina, especialmente para crianças.