O pensamento anticolonial de Vladimir Lênin

Obra da Autonomia Literária reúne formulações do líder bolchevique sobre imperialismo e autodeterminação, fundamentais para as lutas anticoloniais do século XX. Seus escritos seguem como referência para transformar as estruturas de poder global. Sorteamos dois exemplares

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Por Outras Palavras – O dia 21 de janeiro marca o falecimento de uma das personalidades mais importantes do século XX, o líder bolchevique Vladimir Ilyich Ulyanov, eternizado em seu pseudônimo: Lenin. Este ano, completam-se 101 anos desde que o aguerrido militante nos deixou.

Para além de suas formulações sobre economia, partido de vanguarda, a função do jornal como organizador coletivo, entre outros acalorados debates de uma Rússia em ebulição, há um elemento no pensamento leninista que é absolutamente central: a questão anticolonial.

O pensamento do bolchevique foi decisivo para processos de libertação nacional ao redor do mundo. Textos como Tese sobre as Questões Nacionais e Coloniais (1920) influenciaram processos como a libertação do Vietnã do colonialismo francês e, depois, do norte-americano. Hồ Chí Minh, líder da resistência vietnamita, teve contato ainda muito jovem com o escrito citado, em 1920, à época um trabalhador imigrante de espírito combativo e inconformado.

Lênin sempre ressaltou a importância da atuação dos povos não europeus na política internacional, demonstrando como a luta de classes nas nações periféricas é um elemento fundamental para a vitória do proletariado e o avanço rumo ao socialismo.

O pensamento anticolonial de Vladimir Lênin | Diário Carioca

A obra Lênin anticolonial: as lutas dos povos colonizados contra o imperialismo, lançada em 2023 pela Autonomia Literária, no centenário de morte do autor, reúne 42 de seus escritos acerca do tema.

São análises multifacetadas que abordam filosofia, política, economia e sociologia, por meio de denúncias em artigos de jornal, cartas, discursos, e diretivas do partido e do Komintern. Além disso, muitos dos textos reunidos são inéditos no Brasil.

Como coloca Jones Manoel no prefácio da edição: “Ao seu tempo, o bolchevique nadava contra a corrente, defendendo que as desigualdades inscritas na divisão social do trabalho não eram explicadas por elementos raciais e biológicos [rebatendo o científico, muito em voga à época], mas sim pelas relações de produção e dinâmica de poder no sistema interestatal.”

Nos escritos, a dialética colonizador-colonizado é abordada de maneira complexa em suas dimensões econômicas, políticas e ideológicas. A questão de como o chauvinismo nacional é explorado e manipulado pela classe dominante também ganha destaque nas análises.

Para Lênin, as nações colonizadas necessitam então lutar pela libertação nacional – sem perder o horizonte socialista – para, enfim, operar transformações radicais nas estruturas de poder. Seguindo essa lógica, só assim seria possível combater o colonialismo, inclusive a nível cultural e subjetivo.

Seu livro Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo (1917), demonstra sua clara consciência do aspecto devastador da colonização e da dependência econômica a que as colônias estavam submetidas – para além das constantes violências. É assombroso como as formulações dessa obra se demonstram válidas e pertinentes até os dias de hoje.

Muitos são os exemplos da influência de Lênin para as lutas anticoloniais do século XX, e ainda maiores os seus esforços para concretizar uma política antiimperialista, como o glorioso Congresso de Baku. Obviamente, sua teoria não dá conta do enorme desafio de responder a todas as questões do tempo presente. Entretanto, não é negando sua contribuição que encontraremos o caminho, muito pelo contrário.

Cartaz soviético (1932) mostrando os trabalhadores do mundo levantando-se contra o capitalismo e o colonialismo, destruindo bancos à medida que avançam: “Os povos oprimidos das colónias levantar-se-ão sob a bandeira da revolução proletária na luta contra o imperialismo”. Artista: I. B. Rabichev. | Fonte: Propagandopolis
Cartaz soviético (1932) mostrando os trabalhadores do mundo levantando-se contra o capitalismo e o colonialismo, destruindo bancos à medida que avançam: “Os povos oprimidos das colónias levantar-se-ão sob a bandeira da revolução proletária na luta contra o imperialismo”. Artista: I. B. Rabichev. | Fonte: Propagandopolis

Publicado originalmente em Outras Palavras

Raíssa Araújo Pacheco

Redatora do Outros Quinhentos. Formada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Assessorou movimentos sociais e entidades envolvidas na pauta de moradia e direito à cidade.

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