Brasília – A indústria brasileira de transformação registrou um crescimento de 4,6% no terceiro trimestre de 2024, superando a queda de 1,0% observada no mesmo período do ano anterior. Os dados são da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Esse desempenho se destaca em relação à média mundial, que avançou apenas 2,3%, afetada pela desaceleração nos países desenvolvidos e na China.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) atribui esse crescimento ao ciclo de juros baixos e às melhores condições de crédito em 2024. Além disso, a demanda interna se mostrou dinâmica, impulsionada por programas sociais, redução da inflação e melhora no mercado de trabalho.
Desafios à Vista
Entretanto, especialistas alertam que a retomada do crescimento pode perder força devido ao novo ciclo de alta de juros anunciado pelo Banco Central. Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 12,25% ao ano e indicou novos aumentos para janeiro e março de 2025, podendo chegar a 14,25%, um nível semelhante ao auge da crise econômica de 2015-2016.
O economista do Iedi, Rafael Cagnin, afirmou: “Não acredito que vá reverter o crescimento, mas com certeza prejudicará. Pela primeira vez em uma década, a indústria total cresce com vigor sem retração no ano anterior”. Ele também destacou que a pressão por custos mais altos e a concorrência externa podem reduzir o diferencial de crescimento da indústria brasileira em comparação ao restante do mundo.
Cenário Internacional
A desaceleração da indústria na China e na Europa representa desafios adicionais. A política protecionista do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, aumentou tarifas sobre produtos chineses, intensificando a concorrência no mercado interno brasileiro e nos destinos de exportação.
Além disso, o abandono dos compromissos climáticos internacionais pelos EUA, como o Acordo de Paris, pode impactar negativamente o Brasil ao diminuir os esforços globais pela transição energética. Cagnin avaliou que esses fatores podem complicar ainda mais a situação.
Oportunidades e Riscos
Apesar dos riscos mencionados, existem fatores que podem mitigar os impactos econômicos no curto prazo. Programas do BNDES incentivam inovação, digitalização e sustentabilidade. O programa de depreciação superacelerada também estimula investimentos.
A desvalorização do real em relação ao dólar pode favorecer a produção nacional. Contudo, desafios permanecem com a importação de insumos e bens de consumo. Cagnin ressaltou: “O câmbio precisa de previsibilidade para beneficiar efetivamente a indústria. Alterações bruscas em momentos de incerteza criam mais volatilidade do que ganhos para o setor produtivo”.
Entenda o Caso: Crescimento da Indústria Brasileira
- Crescimento em 2024: Indústria brasileira cresce 4,6% no terceiro trimestre.
- Média Mundial: Crescimento global é apenas 2,3%.
- Fatores Internos: Juros baixos e demanda interna impulsionam crescimento.
- Desafios Futuros: Aumento da Selic pode prejudicar expansão industrial.