Lucy Brown, University of Westminster
Aquela imagem sexista e antiquada de uma senhora que os rapazes gostariam de namorar _ como a Mrs. Robinson de “A primeira noite de um homem” _ está sendo desafiada por uma avalanche de filmes hollywoodianos mostrando mulheres em relacionamentos com homens mais novos.
Por gerações, o relacionamento idealizado na tela tem sido o de um homem mais velho e uma mulher mais jovem. Esse prática de seleção de elenco remete à “Era do Silêncio” em Hollywood e refletia uma norma da cultura global. Enquanto isso, a média real de diferença de idade em relacionamentos no Ocidente é muito mais estreita do que o cinema gostaria de fazer você acreditar – cerca de 2,2 anos nos Estados Unidos .
Refletindo o que vemos no cinema, no entanto, uma pesquisa sobre relações heterossexuais na Europa em dezembro, indica que homens preferem se envolver com mulheres mais jovens. E a diferença de idade aumenta conforme o homem é mais velho, já as mulheres mais velhas preferem uma diferença menor de idade. Aos 60 anos, elas têm a tendência de escolher um parceiro um pouco mais jovem.
A história da diferença de idade no cinema de Hollywood
A maioria dos clássicos hollywoodianos exibe uma diferença de idade significativa. Debbie Reynolds é a estrela de um romance com Gene Kelly, 40 anos, quando ela tinha apenas 19 em “Cantando na chuva” (1952). Kim Novak faz par com um James Stewart de 50 anos em “Um corpo que cai” (1958) quando ela tinha só 25. Maria Schneider, outro exemplo, tinha apenas 19 anos quando encenou um par com Marlon Brandon, 49, em “O último Tango em Paris” (1972).
Reynolds e Schneider falaram sobre a dinâmica abusiva de poder durante as gravações. Reynolds se sentiu assediada quando Kelly “enfiou a língua” na sua garganta e Schneider acusou Brando e o diretor, Bernardo Bertolucci, de assédio sexual.
Mais recentemente, pares notórios, que demonstram a onipresença da diferença de idade de dois dígitos, incluem Catherine Zeta-Jones, então com 30 anos, e Sean Connery, 69, em “Armadilha” (1999). Eva Mendes, de 27, fez par com Denzel Washington, 47, em “Dia de treinamento” (2001). E Gemma Aerton, de 22 anos, era o alvo romântico de Daniel Craig, então com 40, em “007 – Quantum of Solace” (2008).
A atriz Laura Dern falou sobre a diferença de idade de 20 anos entre Sam Neill e ela em Jurassic Park (1993), o que era considerado a norma nos anos 1990, agora parece algo “completamente inapropriado”.
Mudando o roteiro
A audiência está cansada da narrativa habitual de Hollywood de formar pares entre jovens atrizes com homens velhos o suficiente para serem seus pais e estão clamando por mudanças.
A escalação de Cillian Murphy e Florence Pugh para “Oppenheimer” (2023) recebeu uma reação negativa pela diferença de idade de 20 anos entre os dois atores. Isso ocorreu principalmente porque o filme apresenta cenas de nudez de Pugh, e a diferença de idade era dez anos maior do que a diferença na vida real entre os personagens que eles interpretam.
Quando Hollywood retratava uma inversão dessa dinâmica de diferença de idade no passado, geralmente provocava o efeito de demonizar mulheres mais velhas. Um dos exemplos mais famosos é o longa “A primeira noite de um homem” (1967). O filme foi estrelado por Dustin Hoffman como um jovem de 21 anos à mercê de uma sedutora de meia-idade, Mrs. Robinson, interpretada pela atriz Anne Bancroft. Mrs. Robson é uma personagem secundária na trama e representa uma mulher triste, com a beleza em declínio, e em competição com a própria filha e que, eventualmente, “ganha” o homem.
A representação de uma mulher mais velha e amarga é posta em xeque por uma onda de filmes recentes centrados em personagens com mais de 40 anos. “Babygirl” (2025) é estrelado por Nicole Kidman, de 57 anos, que interpreta uma CEO em um relacionamento com um estagiário 30 anos mais novo, confrontando estereótipos de gênero e dinâmicas de poder sexual.
Similarmente, Anne Hathaway, 41 anos, em “Uma ideia de você” (2024), se apaixona por um astro pop de 24. Diferentemente da filha de Mrs. Robinson, que é percebida como competitiva, a personagem que interpreta a filha de Hathaway a protege e reconhece as ambiguidades que uma mulher enfrenta quando a diferença de idade do casal segue o contrário do esperado na cartilha dos romances.
Mesmo assim, o ano de 2024 foi interpretado por alguns com desdém como o “ano das mulheres de meia idade” a partir do lançamento de duas produções da Netflix, “Tudo em família” (com Nicole Kidman, dessa vez em um par com Zac Efron, de 36 anos) e “Amores solitários” (Laura Dern, 57 anos, vive um romance com Liam Hemsworth, 34).
Apesar da zombaria digital, a tendência parece que vai continuar. A próxima sequência de Bridget Jones, “Louca pelo garoto” (2025), mostrará Bridget (interpretada por Renée Zellweger, agora com 50 anos) namorando Leo Woodall, de 29. Enquanto isso, “I Want Your Sex” (“O preço do prazer”), com lançamento previsto para o final de 2025, será estrelado por Olivia Wilde, 40 anos, ao lado de Cooper Hoffman, de 21.
As mulheres ainda representam apenas 23% dos roteiristas e diretores em Hollywood. Curiosamente, os filmes recentes com casais de mulheres mais velhas e homens mais jovens têm mais mulheres em papéis criativos e decisivos nos bastidores.
“Amores solitários” (2024) e “Babygirl” (2024) foram escritos e dirigidos por mulheres, Susannah Grant e Halina Reijn, respectivamente. “Tudo em família” (2024) e “Segredos de um escândalo” (2023) foram escritos por mulheres (Carrie Solomon e Samy Burch). E “O preço do prazer” (2025) e “Bridget Jones: Louca pelo Garoto” (2025) têm uma equipe composta por homens e mulheres na sala de roteiristas.
A necessidade de que mais mulheres estejam envolvidas na tomada de decisões criativas para amplificar as vozes das mulheres é crucial. A pesquisa mostra que as mulheres representam apenas 35% dos papéis que têm fala e os personagens para mulheres começam a despencar após os 30 anos.
Não é de se admirar, então, que Reese Witherspoon, Amy Adams e Kerry Washington sejam apenas algumas das atrizes de Hollywood que criaram suas próprias empresas de produção para contar histórias que refletem a ampla gama de experiências, desejos sexuais e vulnerabilidades das mulheres – e celebrar a complexidade e a diversidade das suas relações.
Lucy Brown, Professor of Film and Television, Head of Screen, Assistant Head of School, Westminster School of Media and Communications, University of Westminster, University of Westminster
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