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Minha mãe, Odete Roitman

Na última semana, a Odete Roitman de Débora Bloch fez sua estreia no remake de Vale Tudo

Como num sistema que se retroalimenta, telenovelas afetam a realidade ao mesmo tempo que são espelho dela. Ou uma tentativa que por mais equivocada que seja ainda pode atingir seu alvo de raspão, afinal, somos bilhões de pessoas no mundo, com milhares de experiências e situações possíveis. Se, na nossa sociedade, convenciona-se que mães estão do lado dos filhos, a mesma coisa se vê na ficção.

Em novelas, o tipo mais recorrente talvez seja a mãe amorosa, que luta e cria os filhos frequentemente sozinha. Quem vai se esquecer de Dona Armênia (Rainha da sucata) e seus “filhinhas” ou a “Mamusca” Edilásia Sardinha (Da cor do pecado) e seus filhos lutadores? Além de dona Lola (Éramos seis), Helenas que doam seus filhos para suas filhas (Por amor) ou abandonam seu amor porque a filha ser feliz é mais importante (Laços de família) são alguns dos exemplos mais marcantes.

Há também mães cujo enredo, além de criar uma porção de filhos, é procurar pelo filho perdido, como é o caso de Maria do Carmo (Senhora do Destino) e Dona Lurdes (Amor de mãe).

Um tipo mais raro que não se pode ignorar é mães cúmplices de filhos vilões, como Débora e sua filha Cristina, de Alma Gêmea.

E enquanto há filhos que rejeitam as mães, como Maria de Fátima (Vale Tudo), Josiane (A Dona do pedaço) e Guilherme (Morde e Assopra), há mães que também não poupam esforços para mostrar que desprezam os filhos. Carminha (Avenida Brasil) não gostava de Ágata, Eva (A vida da gente) não gostava de Manuela e Odete Roitman (Vale Tudo), bem, Odete Roitman é um caso a se pensar.

Odete não criou os filhos, deixou essa função para Celina, a irmã boazinha que não teve os seus próprios rebentos. A partir do que se viu até aqui no remake, é possível elencar as prioridades de Odete como sendo: dinheiro, dinheiro, dinheiro, ser obedecida e rapazes novos. Seus filhos, assim como suas outras relações, estão incluídos no item “ser obedecida”. Ela tem planos para eles e quer que obedeçam (de preferência, cegamente, assim como propôs para Ivan).

A personagem agora vivida por Débora Bloch quer os filhos encaminhados, Afonso em Paris a qualquer custo e Heleninha, ativa, e está disposta a passar por cima de quaisquer vontades alheias para isso. Olhando assim até parece que ama os filhos, certo? A realidade, no entanto, indica apenas uma mistura de horror ao Brasil (caso de Afonso) e economia de dinheiro (caso de Heleninha). 

E se o remake respeitar o original, teremos uma mudança nas prioridades da vilã que deixam o horror que Carminha e Eva tinham às suas filhas, por mais claro que fosse, no chinelo. Deixar que sua filha assuma os crimes que cometeu, ver seu psicológico indo pro espaço por isso e também por isso ser afastada da criação do filho que tanto ama, sem falar nada por anos é uma crueldade difícil de bater. Odete não parece odiar Heleninha, mas ama a si mesma muito mais do que poderia gostar da filha fraca. 

Quando “Vale Tudo” estreou, duas mulheres já tinham publicado livros polêmicos sobre grandes estrelas de cinema que também, por acaso, eram suas mães: Joan Crawford (Mamãezinha querida, 1978) e Bette Davis (A guardiã da minha mãe, 1985). Mais recentemente, em 2022, Jennette McCurdy publicou “Estou feliz que minha mãe morreu”. Será que veremos Helena Roitman deixar as artes plásticas e lançar um livro, algo como “Minha mãe, Odete Roitman”?

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Jaqueline Ribeiro
Jaqueline Ribeirohttps://www.diariocarioca.com/
Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos

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