Grupos carismáticos funcionam, trios carismáticos também, mas duplas carismáticas são imbatíveis: contêm o tamanho exato do nosso interesse. No caso de Pablo e Luisão, constituem a exata receita para o caos (e nossa diversão). Enquanto um tem a mais nova ideia brilhante que vai levá-los ao sucesso, o outro tem a ingenuidade de acreditar e investir o que tem, o que não tem e o que a esposa tem (e também não tem) nisso.
Depois de entreter as pessoas no twitter, Pablo e Luisão chegaram ao streaming com toda a pompa que merecem: além de serem interpretados por estrelas do naipe de Ailton Graça e Otávio Muller, a série conta Dira Paes e inúmeras participações ilustres como Regiane Faria, Grace Passô, Miguel Falabella e Karine Teles, não necessariamente nessa ordem. A presença de Lima Duarte na série, naturalmente, não é uma participação, é um evento e chega para emocionar e arrematar uma série de muito humor e amor.
Afora o humor, alguns recursos da série saltam aos olhos. A metalinguagem, por exemplo, é explorada em suas mais diversas possibilidades e conta até com uma cena da Conceição (Dira Paes) assistindo Helena (Dira Paes) em Dois filhos de Francisco. Conceição, aliás, é uma personagem curiosa de se observar. Poderia ser uma coadjuvante ou poderia facilmente ser o contraponto racional aos desvarios da dupla, mas prefere ter seus próprios sonhos, estar sujeita aos erros de toda a gente, embarcando, inclusive, em projeto de Pablo e Luisão.
Com 16 episódios, a série vem reforçar a veia de contador de história de Paulo Vieira já vista no quadro “Emergente como a gente” e “Avisa lá que eu vou”. A expressão “Eu já contei daquela vez que” situa o espectador de que a série é sobre Pablo e Luisão, mas não só, é muito, é toda o Paulo também. Suas participações alternando entre o narrador, si mesmo ou um desconhecido divertem, são boas sacadas, mas cumprem também essa função de mostrar que a série tem uma marca, tem um “dono”, tem as digitais e a alma de um cara mais do que de outras pessoas.
Depois de muitos acertos, Paulo Vieira recebeu a oportunidade de ter uma série sua, uma oportunidade inédita, um investimento financeiro alto se comparado aos outros programas e resolveu abraçar de corpo inteiro. Provavelmente por isso (também) resolveu levar sua família no processo: para dividir o sucesso entre todos. Daí a entrevista com a família ao final dos episódios: além de provar que todos os absurdos têm fundo de verdade, como se o episódio em si e a toda a série não fossem suficientes, funciona como homenagem a quem deu todo o amor e apoio que precisava para seguir no encalço dos seus sonhos – algo que Pablo e Luisão entendem bem.