Mourão rompe com bolsonarismo e critica Trump por tarifas

por 15 de julho de 2025
© Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Atualizado em 25/11/2025 01:43

Brasília, 15 de julho de 2025 — O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) declarou que a imposição tarifária dos EUA é uma afronta à soberania brasileira. Em audiência no Senado, o ex-vice-presidente se descolou do bolsonarismo e acusou Donald Trump de coerção econômica.

Bolsonarismo fragmentado em meio à crise internacional
A fala de Mourão marca a ruptura mais evidente entre o ex-vice-presidente e a linha política encarnada por Jair Bolsonaro e seus filhos. Ao criticar frontalmente Donald Trump, que vinha sendo tratado como aliado incondicional pelo bolsonarismo, Mourão rompe não só com o eixo ideológico do antigo governo, mas com uma narrativa que instrumentaliza a submissão do Brasil aos interesses estadunidenses.

“Não aceito que Trump venha meter o bedelho num caso que é interno nosso”, disparou Mourão, ao comentar as tarifas de 50% impostas por Washington em retaliação ao processo de responsabilização criminal contra Bolsonaro. A declaração foi feita durante audiência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, com transmissão ao vivo.

Isolamento da família Bolsonaro se acentua
Enquanto governadores de perfil conservador, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG), se movem pragmaticamente para buscar soluções diplomáticas, Bolsonaro e seus filhos seguem investindo na retórica da anistia e na pressão internacional. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em viagem prolongada aos EUA, foi o principal articulador da aproximação com Trump — que, em carta pública, defendeu o ex-presidente brasileiro como “culpado apenas por ter lutado pelo povo”.

A retaliação imposta por Washington tem ampliado o custo político da lealdade a Trump no Brasil. Mourão criticou a substituição do soft power pela coerção comercial: “O poder bruto da coerção e do dinheiro está sendo usado de forma que afeta ambos os países”. A frase mira diretamente o coração da lógica imperial que o bolsonarismo vinha normalizando.

Soberania nacional como linha divisória
O movimento de Mourão é, sobretudo, uma tentativa de reposicionar sua trajetória política. Com discurso nacionalista, ele tenta capturar setores da direita que se recusam a seguir Bolsonaro no seu pacto com Trump. Ao condenar a ingerência estrangeira, o senador busca defender uma soberania que o bolsonarismo abandonou em nome da obediência estratégica ao trumpismo.

Em postagem nas redes, Mourão classificou o pedido de condenação de Bolsonaro pela Procuradoria-Geral da República como “claramente político”, mas recusou que esse fato justifique pressões externas. “Compete a nós brasileiros resolvermos isso”, escreveu, em um gesto calculado para dialogar com os setores militares e civis que se opõem tanto ao lulismo quanto ao trumpismo.

Perguntas e Respostas

Mourão rompeu com Bolsonaro?
Sim. Ao criticar Trump e defender a soberania brasileira, Mourão rompe com o alinhamento automático do bolsonarismo aos EUA.

O que motivou a reação de Mourão?
As tarifas de 50% impostas por Trump ao Brasil, justificadas pela perseguição judicial a Bolsonaro, foram vistas por Mourão como ingerência inaceitável.

Qual a consequência política desse gesto?
A fala isola ainda mais a família Bolsonaro e fortalece alas da direita que buscam romper com o trumpismo.

O que diz a carta de Trump?
Trump defende Bolsonaro, dizendo que ele é “inocente” e foi punido apenas por defender o povo.

Como governadores de direita reagiram?
Tarcísio e Zema tentam negociar saídas diplomáticas, distanciando-se da retórica incendiária do clã Bolsonaro.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.