De Niède Guidon poderia ser dito: “Saiu da vida depois de fazer história”. Lamentável que seja um clichê tão flagrante porque é a mais pura verdade e com letras graúdas, com ênfase e empenho. Como fez história! Olhando para a pré-história, para a conservação dos sítios arqueológicos, Niède construiu sua carreira, sacudiu crenças e mudou a vida da população local de uma forma irreversível.
Conforme narra o podcast Os caminhos de Niéde Guidon, tudo começou com Niède professora no interior de São Paulo. Seu modo de vida e sua forma de pensar tanto teoricamente (ensinando sobre a teoria da evolução de Darwin) quanto moral (denunciando ilegalidades na escola) levaram-na a ser expulsa de Itápolis.
E olha que briga foi uma constante na vida dela. Foi assim que se aproximou de Paulo Duarte que a levou para estudar arqueologia e os sambaquis. Foi assim que rompeu com Paulo (e com os sambaquis). Foi assim para escavar sítios arqueológicos, protegê-los, defender a veracidade de seus fósseis junto à comunidade científica nacional e internacional, insistir no desenvolvimento local, segurar as pontas da manutenção do Parque… Uma vida que poucos aguentariam ou sequer topariam encarar.
Uma vida dedicada ao trabalho, o prazer que proporciona e à humanidade. O mínimo retorno financeiro recebido fica ainda menor se comparado à preservação do conhecimento da História do homi sapiens. As vidas que ela mudou, as vidas das mulheres que Niède salvou ao empoderar, isso é absolutamente incalculável. Que sorte é termos tido Niède! Que a semente daquela bravura resista na defesa do que importa: gente.