Brasília, 17 de julho de 2025 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com veemência à tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros, acusando o governo norte-americano de chantagem diplomática e ataque à soberania do país.
Trump agride, Lula responde
O anúncio feito por Trump de que taxaria em 50% os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto não foi recebido como mero ato econômico. Foi interpretado pelo Planalto como agressão política deliberada, carregada de desinformação e ameaça. Lula classificou a medida como “chantagem inaceitável”, denunciando que o governo norte-americano tentou interferir diretamente nas instituições brasileiras — e ainda teve a audácia de falsificar dados sobre o comércio bilateral.
A Casa Branca se ofende — e se expõe
A resposta do governo dos EUA, que se disse “ofendido” pela reação brasileira, revela mais sobre o ressentimento imperial do que sobre qualquer desejo real de diálogo. A retórica de Washington ignora o fato de que o Brasil enviou proposta formal de negociação ainda em maio e jamais recebeu resposta. O silêncio foi rompido apenas por retaliação. O deboche colonial segue intacto.
Traidores da pátria e a ilusão do entreguismo
Lula não poupou nomes ao apontar que a iniciativa de Trump conta com apoio de figuras da política brasileira. Chamou-os de traidores. A crítica foi direcionada a setores entreguistas que apostam no colapso da economia para enfraquecer o governo — mesmo que isso custe empregos e renda ao povo.
Pix, Amazônia e soberania digital
Em tom firme, o presidente incluiu na resposta um recado claro sobre a ofensiva tecnológica: o Pix é do Brasil, e o país não aceitará ingerência estrangeira sobre sua infraestrutura digital. Também lembrou que o Brasil já reduziu pela metade o desmatamento da Amazônia e que nenhuma potência pode apontar o dedo para o país em matéria ambiental. A fala amplia o campo da disputa para além do comércio: trata-se de soberania em múltiplas frentes — jurídica, climática, informacional.
Reciprocidade, OMC e pressão diplomática
O governo já articula uma resposta institucional à ofensiva dos EUA. Entre as medidas possíveis, estão uma queixa formal à Organização Mundial do Comércio e o uso da Lei da Reciprocidade. Ao mesmo tempo, Lula reforça o compromisso com o multilateralismo e com o diálogo global — mas sem submissão. Como afirmou no encerramento: “O Brasil tem um único dono — o povo brasileiro”.
Confira a integra do pronunciamento do presidente Lula:
Minhas amigas e meus amigos,
Fomos surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto.
O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional.
Só uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades, garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.
Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo.
Minhas amigas e meus amigos, a defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras.
No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas.
Minhas amigas e meus amigos,
Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores.
Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer.
Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo.
Minhas amigas e meus amigos,
A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões de dólares.
O Brasil hoje é referência mundial na defesa do meio ambiente. Em dois anos, já reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. E estamos trabalhando para zerar o desmatamento até 2030.
Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo.
Minhas amigas e meus amigos,
Quando tomamos posse na Presidência da República, em 2023, encontramos o Brasil isolado do mundo. Nosso governo, em apenas dois anos e meio, abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.
Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe.
Se necessário, usaremos todos os instrumentos legais para defender a nossa economia. Desde recursos à Organização Mundial do Comércio até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.
Minhas amigas e meus amigos,
Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações.
Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono — o povo brasileiro.
Muito obrigado.
Perguntas e Respostas
Por que Trump impôs a tarifa de 50% ao Brasil?
Segundo o governo dos EUA, o Brasil pratica “concorrência desleal”, mas não apresentou dados concretos. A Casa Branca ignorou propostas de negociação feitas por Brasília.
Como Lula reagiu à tarifa imposta pelos EUA?
Com indignação. Denunciou chantagem, desinformação e interferência em instituições brasileiras. Defendeu soberania, Pix e justiça climática.
Quais setores serão mais afetados pela nova tarifa?
Indústria de base, agronegócio, mineração e siderurgia estão entre os principais alvos da taxação norte-americana.
O governo brasileiro vai retaliar?
Sim. Estuda recorrer à OMC e aplicar a Lei da Reciprocidade. Também articula respostas com setores produtivos e sindicatos.
Há apoio interno à medida dos EUA?
Sim. Lula denunciou parlamentares e empresários que apoiam as tarifas como “traidores da pátria” interessados em sabotar a economia.