Brasília, 17 de julho de 2025 — O governo brasileiro recusou o nome indicado por Israel para assumir a embaixada em Brasília, deixando a representação israelense sem chefe diplomático após a saída de Daniel Zonshine. A decisão agrava o isolamento do governo de Benjamin Netanyahu no cenário internacional.
Um silêncio que fala alto
O silêncio do Itamaraty diz tudo. O governo Lula não concedeu o agrément para o nome de Gali Dagan, indicado por Tel Aviv ainda em janeiro. O embaixador Daniel Zonshine, que encerra seu mandato neste mês, fará as malas sem ver o sucessor assumir o posto. Na prática, a embaixada de Israel em Brasília passará a funcionar acéfala — um vácuo diplomático que não é acidental, mas deliberado.
Uma crise cuidadosamente cultivada
Desde que Lula voltou ao Planalto, a relação com Israel deixou de operar sob o automatismo ideológico que marcou gestões anteriores. A aliança incondicional com governos militaristas cedeu lugar à crítica aberta. E essa crítica não foi tímida. Só entre 2023 e 2025, o Brasil emitiu 64 notas oficiais de condenação ao governo Netanyahu — contra apenas 10 manifestações neutras ou favoráveis. O ponto de inflexão veio quando o Brasil apoiou ações contra Israel na Corte Internacional de Haia, desafiando diretamente a narrativa oficial israelense sobre os ataques em Gaza e no sul do Líbano.
Evangélicos e ressentimentos
Na despedida de Zonshine, a cena foi ilustrativa: um café da manhã com parlamentares da Frente Evangélica e lideranças religiosas. Um retrato da bolha de apoio que o embaixador cultivou — conservadora, beligerante, ideologicamente alinhada ao trumpismo. Zonshine lamentou o distanciamento político, mas apelou ao clichê diplomático de que “os laços entre os povos seguem firmes”. Frase vazia. O embaixador sai, e o Brasil não quer o próximo.
Netanyahu isolado, Trump reeleito
Enquanto isso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já acuado internamente por denúncias de corrupção e pela escalada militar no Oriente Médio, se agarra ao retorno de Donald Trump como último bastião de legitimidade. Mas até mesmo com Trump de volta à Casa Branca, a América Latina segue em rota própria. A recusa brasileira ao novo embaixador é mais que uma formalidade: é uma mensagem geopolítica.
Diplomacia com bússola própria
A recusa do agrément é um gesto de soberania. Num cenário em que Israel continua a atacar populações civis e desrespeitar o direito internacional, fingir normalidade diplomática seria conivência. O Brasil, sob Lula, escolhe não ser cúmplice. E se Netanyahu esperava que o alinhamento automático da era Bolsonaro voltasse com Trump no poder, errou de continente.
Perguntas e Respostas
Por que o Brasil rejeitou o novo embaixador de Israel?
Por decisão política. O governo Lula não concedeu o agrément como forma de expressar rejeição às ações de Israel no Oriente Médio.
O que é o agrément diplomático?
É a autorização oficial dada por um país para aceitar o nome indicado como novo embaixador estrangeiro em seu território.
Israel ficará sem representação no Brasil?
A embaixada seguirá funcionando, mas sem chefe oficial — uma condição que sinaliza ruptura nas relações de alto nível.
Qual o impacto da postura brasileira nas relações com os EUA?
Mesmo com Trump de volta à Casa Branca, o Brasil reafirma autonomia diplomática, recusando subordinação a eixos militaristas.
A crise é apenas ideológica?
Não. É também jurídica e humanitária: o Brasil tem denunciado Israel por violações de direitos humanos na Corte Internacional.