Foto: US EMBASSY BRASILIA

Brasília, 8 de agosto de 2025 — O governo brasileiro convocou nesta quinta-feira o chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para expressar “profunda indignação” com os recentes ataques à soberania nacional e ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa do Itamaraty é uma reação direta às postagens feitas pela embaixada americana e pelo Departamento de Estado dos EUA, que acusam Moraes de censura e violações de direitos humanos.

Nova escalada nas ameaças diplomáticas

Na quarta-feira (7), o perfil oficial da embaixada dos EUA, sob comando de Escobar, divulgou no X uma mensagem alarmante: “O ministro Moraes é o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores. Suas violações de direitos humanos resultaram em sanções pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Donald Trump“. O texto ainda adverte autoridades brasileiras contra qualquer apoio ao ministro: “Estamos monitorando a situação de perto”.

O conteúdo, considerado ameaçador por diplomatas brasileiros, foi inicialmente publicado por Darren Beattie, subsecretário para Diplomacia Pública, e retuitado por um órgão oficial do Departamento de Estado, o Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental.

Sanção política disfarçada de defesa de direitos

A ofensiva americana ocorre após o governo Trump incluir Moraes na lista de sanções da Lei Global Magnitsky, ferramenta diplomática tradicionalmente usada contra ditadores e criminosos internacionais. Na prática, Moraes está impedido de entrar nos EUA, teve bens bloqueados e não pode acessar serviços de empresas americanas. Segundo Washington, as medidas são uma resposta à atuação do ministro no processo que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022, do qual Jair Bolsonaro é réu.

A narrativa de “defesa da liberdade de expressão” também foi mobilizada pela embaixada ao condenar a prisão domiciliar do ex-presidente. “Deixem Bolsonaro falar”, publicou o canal oficial, deslegitimando decisões judiciais brasileiras.

Itamaraty denuncia afronta à soberania

A resposta do Ministério das Relações Exteriores foi imediata. Escobar foi recebido pelo embaixador Flavio Goldman, interino da Secretaria de Europa e América Latina, que reafirmou a posição do governo Lula contra o que classificou como “clara ingerência em assuntos internos e ameaças inaceitáveis contra autoridades brasileiras”. O Itamaraty recordou ainda o artigo 41 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, que proíbe representantes estrangeiros de interferirem na política interna do país anfitrião.

Esta é a quarta convocação de Escobar desde o retorno de Trump à presidência, em 2025. As anteriores trataram da deportação em massa de imigrantes brasileiros, de manifestações de apoio ao bolsonarismo e da carta de Trump exigindo isenção de tarifas ao Brasil.

Entenda o caso

Por que o Itamaraty reagiu com tanta veemência?
Porque a declaração oficial de uma embaixada estrangeira contra um ministro da Suprema Corte viola normas internacionais e afronta diretamente a soberania nacional.

O que diz a Convenção de Viena?
O artigo 41 estabelece que diplomatas devem respeitar as leis do país anfitrião e não interferir em seus assuntos internos. A declaração da embaixada é considerada uma clara violação.

Por que os EUA miram Moraes?
Moraes é relator dos processos contra Bolsonaro e principal articulador das ações que responsabilizam os golpistas de 8 de janeiro. Seu papel incomoda setores da extrema direita internacional.

O que representa a Lei Magnitsky?
Instrumento de sanção a indivíduos acusados de graves violações de direitos humanos. A aplicação contra um magistrado de um país democrático é sem precedentes.

Quem se beneficia dessa pressão?
A extrema direita brasileira e seus aliados externos, que tentam constranger o STF e inviabilizar as investigações contra o ex-presidente.

Desdobramentos perigosos

A escalada verbal da embaixada americana expõe o grau de radicalização diplomática da administração Trump e evidencia a tentativa de interferência direta no sistema de justiça brasileiro. Mais do que um incidente diplomático, o caso revela um padrão de aliança entre setores do bolsonarismo e o atual governo dos Estados Unidos, com potencial para tensionar relações bilaterais e institucionalizar a ingerência externa como estratégia política.

JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.