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Tragédia

Sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki são atendidos pelo HJSC 80 anos após os ataques

Hospital Japonês Santa Cruz acompanha cerca de 31 “hibakushas”, termo japonês que significa “aqueles que foram afetados por bombas”

No dia 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram a primeira bomba atômica da história sobre a cidade japonesa de Hiroshima, matando mais de 70 mil pessoas. Três dias depois, em 9 de agosto, uma segunda bomba atingiu Nagasaki, com cerca de 80 mil mortos. Após 80 anos, sobreviventes desses ataques, conhecidos como hibakushas, ainda convivem com os efeitos dos bombardeios. Em São Paulo, residem cerca de 56 sobreviventes, sendo que parte deles recebe acompanhamento no Hospital Japonês Santa Cruz (HJSC).

Entre eles está o senhor Kunihiko Bonkohara, 85 anos. Quando a bomba atingiu Hiroshima, ele, que tinha 5 anos, estava com o pai a cerca de dois quilômetros do epicentro da explosão. “Foi, então, quando tudo brilhou. Meu pai, que estava em pé ao meu lado, me puxou para debaixo da mesa e ficou em cima de mim, como se tivesse me cobrindo. Neste mesmo instante ouvi o som da bomba e senti o seu vento”, relata.

No dia seguinte, os dois saíram de bicicleta em busca da mãe e da irmã. “No caminho, havia muitos corpos mortos e vários entulhos jogados”, lembra. Elas nunca foram encontradas. Bonkohara também foi exposto à chamada “chuva preta”, precipitação radioativa que caiu sobre a cidade após a explosão. Anos depois, passou a apresentar sintomas como bolhas com pus pelo corpo.

Ele chegou ao Brasil aos 20 anos. Tempo depois, em 1988, se juntou à Associação Hibakusha Brasil pela Paz. “As vítimas que se encontravam no Brasil não recebiam os auxílios. O maior desejo ao se criar a associação foi justamente de que as vítimas pudessem receber tratamento no local onde estivessem”, afirma.

O atendimento médico a hibakushas começou no Japão em 1950, mas por muitos anos era necessário viajar ao país para ter acesso aos serviços. Em 2004, quando o Hospital Japonês Santa Cruz firmou acordo com o governo japonês, por meio da organização Hiroshima International Council for Health Care of the Radiation-exposed (HICARE), passou a ser um dos hospitais credenciados para realizar os check-ups dos sobreviventes no Brasil. Na época, cerca de 130 pessoas foram atendidas.

Os exames incluem avaliação clínica, laboratoriais, ginecológicos, raio-X, ultrassonografia e endoscopia digestiva, entre outros. Desde 2019, além do diagnóstico, o tratamento médico desses pacientes também passou a ser custeado pelo governo japonês.

“Hoje, o nosso hospital acompanha cerca de 31 hibakushas em São Paulo. Nem todos fazem os check-ups regularmente, mas permanecem cadastrados e têm acesso ao atendimento conforme a necessidade. A cada dois anos, médicos de Hiroshima e Nagasaki visitam o país para supervisionar os procedimentos. Já os profissionais do nosso hospital participam, anualmente, de treinamentos no Japão, promovidos pelas organizações HICARE e NASHIM (Nagasaki Association for Hibakushas Medical Care)”, explica o diretor-presidente do Hospital Japonês Santa Cruz, Dr. Masato Ninomiya.

Efeitos tardios na saúde dos sobreviventes

Os efeitos da radiação nos organismos dos sobreviventes não se limitaram ao impacto imediato das explosões. Em muitos casos, os sintomas apareceram anos mais tarde.

“A radiação afeta o DNA das células e as consequências desse impacto podem levar de cinco a dez anos ou até mais para se manifestar. Os cânceres não surgem de forma imediata. A leucemia, por exemplo, pode aparecer até dois anos após a exposição, enquanto os tumores sólidos começaram a surgir de forma mais significativa cerca de dez anos depois”, explica Dra. Lídia Miyoshi, clínica geral do Hospital Japonês Santa Cruz.

Entre os cânceres mais comuns estão os de tireoide, mama, próstata, pulmão, intestino e estômago. “A radiação altera o material genético e aumenta o risco de vários tipos de câncer, inclusive em órgãos não diretamente expostos”, afirma a médica.

As mutações também podem atingir as gerações seguintes. Filhos de hibakusha podem nascer com maior incidência de malformações e apresentar risco aumentado para doenças genéticas ao longo da vida.

Além do câncer, muitos pacientes apresentam doenças autoimunes, catarata precoce, distúrbios cardiovasculares e neurológicos. “Também há um impacto mental que muitos lidam até hoje com traumas psicológicos graves, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático”, completa Dra. Lidia.

“O acompanhamento oferecido pelo hospital busca garantir qualidade de vida aos sobreviventes e preservar a memória dos impactos da guerra nuclear, reafirmando o compromisso com a saúde, a dignidade e a paz”, finaliza o diretor-presidente

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

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