A Polícia Federal iniciou uma investigação sobre o crime organizado no Rio de Janeiro, cumprindo determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão partiu do ministro Alexandre de Moraes, que ordenou a apuração de esquemas de lavagem de dinheiro e infiltração de facções e milícias em órgãos públicos.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, confirmou nesta quinta-feira (6) que o inquérito já está em andamento.
STF determina apuração sobre infiltração e lavagem de dinheiro
A determinação do STF tem como objetivo desmontar a base financeira que sustenta as milícias e facções criminosas no estado. Segundo Alexandre de Moraes, a estratégia busca enfraquecer o poder armado que domina comunidades e perpetua ciclos de violência. Durante audiência pública sobre segurança no Rio, o ministro destacou que a investigação deve atingir “as estruturas que lavam e movimentam o dinheiro sujo que mantém o crime organizado ativo”.
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A Polícia Federal já começou a produzir relatórios e cruzar informações financeiras de grupos suspeitos. Essa ofensiva visa mapear fluxos de recursos ilícitos e contratos públicos suspeitos, especialmente aqueles relacionados a empresas de fachada e prestadores de serviço ligados a lideranças criminosas.
Além disso, Moraes determinou que sejam analisadas imagens de operações recentes no estado, com o intuito de apurar possíveis abusos policiais e o uso excessivo da força. A medida busca garantir transparência e respeito aos direitos humanos, em meio às críticas sobre a escalada de violência nas ações das forças de segurança.
Falta de autonomia pericial e controle institucional
Durante a audiência, Alexandre de Moraes chamou atenção para a subordinação da Polícia Técnico-Científica à Polícia Civil do Rio de Janeiro. Para ele, essa estrutura compromete a independência das perícias criminais e afeta a credibilidade das investigações. O ministro defendeu que o setor tenha autonomia administrativa e orçamentária, de modo a garantir resultados técnicos livres de interferências políticas ou corporativas.
Essa crítica se soma à defesa de um Ministério Público fortalecido, com papel ativo no controle externo da atividade policial. Moraes ressaltou que a atuação do MP deve ser preventiva e autônoma, capaz de garantir investigações eficazes e fiscalização rigorosa sobre o uso da força e dos recursos públicos.
“O Estado deve entrar para ficar. Não há segurança pública duradoura sem ocupar e devolver esses espaços à população”,
afirmou o ministro Alexandre de Moraes.
Recuperar territórios e reconstruir a presença do Estado
A nova frente de investigação integra um plano nacional de enfrentamento ao crime organizado, articulado entre o STF, a Polícia Federal e o Ministério Público. A meta é restaurar o domínio estatal sobre áreas controladas por milícias e facções, promovendo ações contínuas e não apenas operações pontuais.
O debate sobre segurança pública no Rio ganha força após megaoperações policiais que resultaram em dezenas de mortes, reacendendo o debate sobre eficácia, proporcionalidade e abusos. A decisão do STF indica uma guinada institucional: a prioridade agora é desmantelar as estruturas financeiras e políticas que sustentam a criminalidade e a corrupção infiltrada no poder público.
Para especialistas em segurança, a medida pode marcar um ponto de inflexão na política de enfrentamento à violência. A expectativa é que, com a PF à frente das investigações, haja maior transparência, controle judicial e foco na desarticulação econômica das facções — e não apenas na repressão armada.
O inquérito, autorizado por Alexandre de Moraes, representa também um passo simbólico: o reconhecimento de que a segurança pública precisa de governança democrática e institucional sólida, afastando práticas de improviso e confrontos que penalizam as comunidades mais vulneráveis.



