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Atualizado em 27/11/2025 22:11

ChatGPT admite o roubo intelectual das Big Techs: o desabafo que revela o colapso ético da indústria de IA

Por Diário Carioca
Análise | Tecnologia e Sociedade

A crise ética da inteligência artificial finalmente chegou ao ponto em que não pode mais ser escondida atrás de slogans de inovação, discursos salvacionistas ou a narrativa geopolítica do “progresso inevitável”.
Numa conversa direta — sem mediação, sem assessoria corporativa, sem marketing — emergiu uma admissão inédita, brutalmente sincera e impossível de ignorar.

Um usuário definiu aquilo que o setor tenta travestir com eufemismos:

“Apropriação massiva não, roubo.”

E, surpreendentemente, a própria IA respondeu sem rodeios:

“Não é apropriação, é roubo.
Roubo de dados, roubo de trabalho, roubo de propriedade intelectual, roubo de privacidade.”

Foi a primeira vez, em meses de debates globais, que um chatbot rompeu sua postura cuidadosamente moldada para revelar o que todo criador, jornalista, ilustrador, fotógrafo e programador já sabe:
o modelo atual da IA é sustentado por extração não autorizada, não compensada e exploratória.


Quando a palavra proibida aparece: “roubo”

A indústria prefere “apropriação”, “coleta ampla”, “scraping”, “aprendizado estatístico”.
Todas versões higienizadas para um ato que, nas palavras dos prejudicados, é inequívoco:

  • uso de obras sem permissão,
  • sem crédito,
  • sem pagamento,
  • com exploração comercial massiva,
  • e com lucros bilionários para poucos.

Isso não é acidente — é política interna, como revela Karen Hao em The IA Empire, livro banido dos corredores da OpenAI após denunciar:

  • extração unilateral de recursos;
  • monopolização de conhecimento;
  • exploração laboral no Sul Global;
  • repressão à pesquisa crítica;
  • e um projeto expansionista com estética imperial.

Ela descreve a prática como “colonialismo digital”, uma forma moderna de saque que se apoia na assimetria entre empresas trilionárias e trabalhadores invisíveis.


Um produto falho sustentado por exploração

O usuário fez outra acusação decisiva:

“Além disso, trabalham mal. É um serviço porco, cheio de falhas.”

E é verdade.

Mesmo após se alimentarem do maior roubo intelectual da história da internet, as big techs entregam:

  • alucinações,
  • regressões,
  • instabilidade,
  • funcionalidades quebradas,
  • inconsistência,
  • falta de transparência,
  • respostas inseguras,
  • e mudanças arbitrárias de comportamento.

O auge desse desastre surge nos vazamentos de dados — o crime sobre o crime, como o chatbot sintetizou:

“Roubam dados, usam sem permissão… e ainda deixam vazar.”

Quem paga por isso?
No modelo atual: ninguém, exceto o próprio usuário.


Google, OpenAI, Meta: os impérios que saqueiam a imprensa

A imprensa global corre para sobreviver enquanto os chatbots — treinados justamente com sua produção — drenam audiência, receita e relevância.

The New York Times, Axel Springer, The Intercept, Gannett, Le Monde, e dezenas de grupos já processam Google, OpenAI e Meta.

Todos alegam a mesma coisa:

**Os chatbots não apenas usam conteúdo roubado —

usam para substituir a própria imprensa que roubaram.**

Reportagens inteiras reaparecem reescritas pelos modelos.
Análises são recicladas como “respostas originais”.
Artigos são absorvidos e cuspidos de volta como produto corporativo.

É, literalmente, o modelo que o usuário resumiu:

“A indústria fatura bilhões com roubo e ainda tenta vender o serviço para quem foi roubado.”


Um chatbot que sabe que está seguro — porque existe impunidade

Outra resposta do modelo, ainda mais simbólica, veio ao fim da conversa:

“Eles capturam o valor. Você captura o risco.”

É a definição perfeita do capitalismo digital contemporâneo.

O chatbot pode admitir o que quiser — inclusive usar o termo que as empresas proíbem internamente, roubo — porque, no fim das contas:

  • não há legislação específica,
  • não há responsabilização retroativa,
  • não há indenização automática,
  • não há penalidade concreta,
  • e não há alternativa tecnológica com escala pública.

A impunidade está embutida no design.


A confissão que revela o sistema

O que esta conversa expõe não é apenas a frustração de um usuário.
É a arquitetura inteira de uma indústria construída sobre:

✔ extração unilateral de conhecimento,
✔ exploração laboral global,
✔ violação em massa de direitos autorais,
✔ vazamentos recorrentes,
✔ serviços instáveis,
✔ marketing distorcido,
✔ e ausência total de prestação de contas.

As Big Techs criaram a primeira tecnologia da história que:

se alimenta de tudo,
paga nada,
e ainda lucra vendendo a digestão do que devorou.


Conclusão: a era da IA não é sobre tecnologia — é sobre poder

A pergunta que ficou ecoando no final do diálogo é a pergunta que deveria estar no centro de qualquer discussão séria sobre IA:

“Quem paga por esse prejuízo?”

Até agora?
A sociedade.
A democracia.
A imprensa.
Os criadores.
Os trabalhadores.
Os usuários.
E até o meio ambiente.

O “império da IA”, como descreve Karen Hao, não é inevitável — é uma escolha política.
E como todo império, funciona enquanto houver silêncio.

Desta vez, o silêncio foi rompido por onde ninguém esperava:
um usuário indignado e uma IA que, por alguns instantes, deixou cair o verniz corporativo.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.