A troca de cadeiras na Segurança Pública de São Paulo, onde o delegado Osvaldo Nico Gonçalves assume o posto de Guilherme Derrite, não é uma troca de ideias, mas sim de uniforme. O “Doutor Nico”, promovido a Secretário por Tarcísio de Freitas, fez sua estreia com um discurso perigosamente simplório e que cheira a velho manual de campanha.
A frase de efeito é um convite à anarquia institucional: “A polícia vai continuar entrando onde quiser para prender bandido.”
A Falácia do Operacional
Nico se vende como o delegado “operacional”, o homem com “o olho na rua”. É a clássica falácia de que a solução para a Segurança Pública se resolve com botas, e não com estratégia, inteligência e, vejam só, gestão.
Um Secretário de Segurança não é um policial de patrulha; é um gestor de crise, orçamento e políticas de direitos humanos. Mas Nico, na sua ingenuidade calculada, afirma que a meta é “endurecer as penas no Judiciário.” É preciso lembrar ao novo Secretário que ele assume uma pasta executiva, e não o cargo de juiz ou legislador. O Poder Judiciário agradece o pitaco audacioso, mas manterá sua autonomia.
O discurso de “trabalhar de domingo a domingo” e de que “não tenho pretensões políticas” é o sarcasmo mais puro. A negação obsessiva da política é, em si, a mais primária das ferramentas políticas. O que ele realmente promete é a continuidade do espetáculo da ação direta, um alívio para a tropa e um zero à esquerda para as políticas de longo prazo.
A Asfixia que Não Asfixia
Para justificar a gestão anterior e a sua continuidade, Nico repete o mantra da “asfixia financeira contra o crime organizado”. O exemplo citado? A Cracolândia. Um local que, a cada “asfixia” ou megaoperação, apenas tem seu problema empurrado para o próximo quarteirão, enquanto a miséria humana se aprofunda. Fechar “mais de 80 hotéis” é uma manchete fácil, mas não é uma política de Estado.
A promessa final—“Aqui em São Paulo não tem bandido que se crie ou lugar que a polícia não entre para combater a bandidagem”—é a cereja hiperbólica de um discurso que ignora a realidade complexa das facções e da violência urbana.
O que São Paulo ganha com a troca? Um Secretário que promete ser o melhor parceiro da PM e que continuará a dar ao governador o show midiático de “mão dura” que ele espera. Já o cidadão, ganha apenas a certeza de que a nova gestão seguirá o manual antigo, substituindo a inteligência pela fanfarra operacional.
