Marcelo Gularte fala sobre “A Lenda do Funk Carioca” - a bíblia do funk carioca

Marcelo Gularte é poeta, escritor, pesquisador, ator, cineasta, produtor cultural, músico, psicanalista e possuiu o posto de recordista mundial no campo literário. Na realidade ele parece uma máquina de trabalho, não para. Escrevendo, produzindo sempre algo importante.

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Gularte é autor do livro “A Lenda do Funk Carioca” com mil e quinhentas páginas, dois mil personagens. Quando você olha o livro, percebe-se porque ele é conhecido, popularmente como “a bíblia do funk carioca”.

– Foram sete meses pesquisando, escrevendo e produzindo, escrevia mais de 14h por dia; confessa.

Ganhei a primeira edição, já têm outro volume, do livro “O Dito Pelo Não Dito” com 133 páginas de ditos populares usados cotidianamente em todos os cantos do Brasil. Lembra? “Cavalo dado não se olha os dentes”, esse e outros ditados estão na obra.

Em conversa na Livraria Cultura, no Rio de Janeiro, Marcelo respondeu algumas perguntas; veja o que ele nos adianta sobre as novidades, além de contar sua trajetória.

Reportagem por Elias Nogueira

“A Lenda do Funk Carioca”. Livro que lhe deu status e considerado, pelos críticos e fundamentalistas como “a bíblia do funk carioca”.
– Nos anos 1990 quando o funk carioca estava explodindo, tornando-se uma linguagem predominante no movimento de juventude da minha geração, nesse período eu já fazia curso de teatro, modelo/manequim, música, vivia rodando os cineclubes do Centro e Zona Sul. Minha relação com a música era o rock, mas quando entrei na escola de música, estudei música erudita, meu instrumento era flauta e o meu professor era músico de formação clássica e, tocava na Orquestra Sinfônica. Quando comecei trabalhar como músico, fui mais para o chorinho, o samba e a bossa nova.

Em 2012 fui contemplado em um edital de estímulo a produções artísticas do funk, promovido pela Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Minha proposta era um trabalho de memória com o lendário Mc Magalhães. Transformei para um projeto de audiovisual e, realizei um curta com 15”.

O filme acabou ficando badalado, teve muita exposição na mídia e comecei passar vergonha nas entrevistas, por não ser conhecedor do segmento funk. Então, em 2013 após lançar o filme e estar com ele circulando por alguns festivais, comecei estudar sobre o assunto e as pessoas começaram me cobrar para acrescentar mais histórias no filme.

Como lancei o curta no momento que eclodiam os protestos de 2013 no Rio e São Paulo, fiquei sem patrocínio para meus projetos, como tinha umas economias guardadas, comecei a escrever um romance inspirado no Mc Magalhães. Reuni um conteúdo bem bacana, e descobri no processo da pesquisa que, ainda não havia nenhum romance tendo as lendas urbanas que envolvem pichação, surfe de trem, torcida organizada e funk; aí ampliei meu campo de trabalho e, em oito meses de estudo, entrevistando mais de 300 pessoas de diversas gerações, concluí em 2014; livro que ficou com 1.500 páginas, e acabou se tornando o maior romance brasileiro de todos os tempos, por número de páginas, além de afrontar o Guinness Word Records como o romance com o maior número de personagens do mundo, 2 mil personagens que em 99% são reais e fazem parte da história do movimento funk no Brasil, que começa na virada dos anos 1960 para 1970 com o soul, black music. O calhamaço de 1.500 páginas, inspiradas em um público considerado não leitor, passou a ser chamado de “a bíblia do funk carioca”, mas só em 2017 foi publicado, pela editora Letras & Alfarrábios, o primeiro volume com 300 páginas, restando ainda à publicação de mais quatro volumes com 300 páginas cada.

Sobre o livro lançado em 2013 com a segunda edição 2014, livro de ditos populares usados frequentemente no dia a dia.
– O Livro “O Dito Pelo Não Dito” Volume 1 e 2 é resultado de uns 15 anos de pesquisa no universo dos ditados populares. O primeiro livro demorou dez anos para publicar. O segundo volume fiz em cinco anos. Ambos compõem a maior narrativa literária por ditados populares do mundo. Já fiquei seis horas recitando meu livro de cabeça sem repetir um ditado. Tinha eles de cor e salteado! Meu acervo de ditados memorizados é de 30. Estou escrevendo o Volume 3, já há algum tempo! É uma construção poética bem interessante e uma pesquisa bastante cuidadosa. Os ditados populares são um patrimônio comum da humanidade, em todas as culturas e civilizações eles se fazem presente. O livro foi publicado em 2006 esgotou, fiz uma revisão acrescentando mais ditados, e no ano de 014 lancei o volume dois. Ambos estão esgotados! Elias, um dos seus colegas, de um grande jornal carioca, me apelidou com o titulo da matéria, “O Rei dos Ditados Populares”.

Alguns livros lançados
Publiquei três livros e participei de antologias de poesias e contos. Pois, tenho do romance de 1.500 páginas quatro volumes pra sair ainda, dois livros de ditados populares, tenho dois volumes esperando serem publicados, os volumes um e dois da “Enciclopédia do funk” que completos serão seis volumes.

O primeiro é dedicado à pré-história do funk carioca, a soul music dos anos 1970. Esse livro tem 320 páginas ilustradas com raras imagens, foi tombado pela câmara dos vereadores como patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro, foi chancelado pelas secretarias de Estado e Município do Rio de Janeiro, Selo Favela Criativa da Light, está no livro dos recordes por ser a obra com o maior acervo iconográfico dos bailes black dos anos 1970, são mais de 500 imagens. O livro está aprovado na lei de incentivo do ICMS e do ISS aguardando uma empresa para fazer a renúncia fiscal. Esse é um projeto de estimulo a primeira leitura, com distribuição gratuita nas bibliotecas, universidades e escolas pública.

O volume dois da enciclopédia que acabei de terminar chama-se “A Era das Melôs” um mapa do funk na década de 1980. No mesmo padrão de luxo e ilustrações; volume que dedicarei ao antropólogo Hermano Vianna foi o primeiro pesquisador a publicar um trabalho sobre o assunto, esse ano está fazendo 30 anos que saiu “O Mundo do Funk Carioca”, acho uma justa homenagem.

Os respectivos volumes seguiram por década. O volume três, que já iniciei, chama-se “A Geração dos MCs” e será dividido em dois volumes. O projeto segue até 2020. O quinto volume é intitulado “Da Proibição ao Proibidão” e, o volume seis será “Do Beat Box ao Passinho”.

Novidades
– Estou finalizando o longa-metragem denominado “A História de um Silva”, o objetivo é fazer no final de abril uma pré-estreia no Rio e São Paulo. O filme documentário é inspirado na vida do Mc Bob Rum, autor do clássico “Rap Silva”; essa música representa um hino entre os funkeiros e o Bob tem uma história muito bonita de fé e superação, atípica no meio do funk. Foi criado no bairro de Santa Cruz e desde pequeno estava predestinado a ser ministro de louvor na igreja onde aprendeu tocar vários instrumentos.  Quando criança já compunha e dava recitais. Além de ter sido um grande jogador de futebol, até hoje suas façanhas com a bola pelos campos da Zona Oeste são lembradas com glória.