Arlindo Cruz - Foto: Washington Possato/Divulgação

Rio de Janeiro8 de agosto de 2025Arlindo Cruz, cantor, compositor e símbolo maior do samba popular brasileiro, morreu nesta sexta-feira, aos 66 anos, no hospital Barra D’Or, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A morte foi confirmada por sua esposa, Babi Cruz. Desde 2017, Arlindo enfrentava severas sequelas após sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico.


Um construtor da identidade brasileira

Figura central da música popular, Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu em 14 de setembro de 1958, na cidade do Rio de Janeiro. Reconhecido como multi-instrumentista, letrista preciso e cavaquinista de alma, tornou-se conhecido como “o sambista perfeito”, apelido tirado de uma de suas composições com Nei Lopes — que deu nome à biografia lançada neste ano.

Com mais de 550 músicas gravadas, Arlindo transitou por todos os espaços sagrados do samba: das rodas populares aos grandes palcos, das comunidades às avenidas da Sapucaí. Foi membro do lendário grupo Fundo de Quintal, parceiro de nomes como Zeca Pagodinho, Sombrinha, Beth Carvalho, Alcione e Jorge Aragão.


Herdeiro de Candeia, irmão do povo

A formação de Arlindo foi forjada no barro e no aço: nas rodas do Cacique de Ramos, nos festivais de interior, e sob o olhar generoso de Candeia, seu padrinho musical. Ali, entre cavaquinhos e versos agudos, ele cresceu para se tornar voz coletiva de um povo.

Em sua trajetória, foi também um defensor do samba-enredo como ferramenta de resistência. Pela Império Serrano, sua escola do coração, assinou sambas históricos — incluindo o enredo “E verás que um filho teu não foge à luta” (1996). Tornou-se enredo da própria escola em 2023, símbolo de sua importância cultural.

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Adeus a uma parte do Samba

Quem foi Arlindo Cruz para além da música?
Um artista que simbolizou a resistência cultural negra em meio a ataques à memória popular e à cultura periférica.

Por que sua morte impacta o samba brasileiro?
Sua partida encerra um ciclo de criação que dava sentido à existência de um Brasil profundo, marginalizado e autêntico.

Quem o tentou silenciar ao longo da vida?
A lógica mercantil da indústria cultural, que despreza vozes fora do eixo hegemônico. Ainda assim, ele se impôs.

O que sua história revela sobre o país?
Que o Brasil profundo sobrevive apesar dos golpes, das crises e das elites indiferentes.

Quem carrega sua tocha agora?
As novas gerações do samba e os blocos de rua, que reverberam sua obra em novos tambores e resistências.


Um adeus que também é alerta

A morte de Arlindo Cruz não é apenas uma perda. É sintoma de um país que insiste em negligenciar seus mestres, sua história e sua arte de raiz. Ele se despediu longe dos holofotes, depois de anos de luta silenciosa contra o abandono e as sequelas do AVC. O samba perde uma de suas colunas. O Brasil perde memória viva.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.