O novo ano vai começar. Não há absolutamente nada a ser feito contra isso, só se pode fazer a favor e é aí que temos uma grande festa, o réveillon. Para garantir o restante do ano, é que se inventam as simpatias.
Há simpatia para tudo e ao gosto do freguês, frequentemente envolvendo o número 7: são 7 as ondas que precisam ser puladas, são 7 lentilhas/sementes de romã que devem ser consumidas/guardadas, são 7 as calcinhas que devem ser usadas, ops, não, espera. Brincadeiras à parte, é fato que 2024 foi um ano especialmente cansativo e merece ser exorcizado devidamente bem como nossos chakras precisam ser realinhados e as energias recarregadas… Façamos, pois, isso com música!
Sugestões para se livrar de 2024 e encarar o ano que começa
- Acabou Chorare (1972)
A experimentação dos Novos Baianos nos deu esse saboroso álbum devidamente reconhecido como um dos melhores da nossa música. Acabou o ano, acabou o choro, acabou o chorare, o mistério do planeta somos nós e resta-nos imitar a menina e dançar.
- Canções praieiras (1954)
Fim/começo de ano é preciso estar perto do mar de qualquer maneira. A sorte de ter nascido na língua portuguesa é que pode-se fazer isso de dois modos: indo literalmente para a praia ou escutando esse álbum do Caymmi. É escutar e correr para ajudar o pescador (e o canoeiro) que cerca o peixe, bate o remo / puxa a corda, colhe a rede / ô canoeiro, puxe a rede do mar.
- Elis e Tom (1974)
Encerrar o ano que esse encontro de gênios completa 50 anos com esse álbum parece a opção correta. Feito inteiramente com composições do Maestro, Elis e Tom combina a pegada bossa-novista refinada com a técnica aguçada da intérprete. As águas de março ainda demoram a chegar, mas chove na roseira e em toda parte, um clima agradável, uma atmosfera que dita: Brigas nunca mais. Uma ótima promessa de ano novo.
Seria difícil escolher um único álbum de Gil e de Caetano. Para isso, existe “Dois amigos”. O álbum conta com uma música inédita e alguns dos maiores sucessos da dupla Gil e Caetano em voz e violão. Cura onde dói, sara as feridas, acalenta, um primor.
- Os Tincoãs (1977)
Nas festas e nas frestas de fim de ano, recorre-se frequentemente ao sagrado. Afinal, é difícil mergulhar de cabeça num ano novinho em folha sozinho. Reza-se para Jesus de olho no Dia de Reis, mas no 31 de dezembro é para Yemanjá a oferta de flores. E ainda que não se professe a mesma fé, não deixa de ser bonito apreciar o sagrado do outro e que a gente encontra magistralmente registrado neste álbum em que “Cordeiro de Nanã” é apenas umas das belezas.
- Os tambores de Minas (1997)
Ainda nesse clima de sagrado, nesse voltar para dentro intimista que a virada do ano propicia, como não incluir Milton Nascimento, com sua voz de Deus? Em “Tambores”, há momentos de reconforto como “Paula e Bebeto” e há também a energia necessária para enfrentar o novo, o velho, o que vier, e firmar posição. Em “Janela para o mundo”, somos todos cidadãos do mundo, não somos nem diferentes, nem estrangeiros. É uma música, mas também uma decisão firme pela paz.
- Da lama ao caos (1994)
E se vamos meter o pé na porta do ano novo, levando a esperança nos dentes e prontos pra fazer o mundo que queremos, ah, então vamos com Chico Science e a Nação Zumbi, todos juntos Da lama ao caos. Esse marco do manguebeat é também uma denúncia elétrica da realidade recifense (e brasileira). Se a realidade não é como queremos, vamos começar o ano nos organizando para desorganizar. Dá tempo, dá muito tempo, um ano inteiro para ser mais específica.