A OTAN acelera seu conflito contra a China

O então secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, durante a Cúpula de Washington da OTAN. (Foto: NATO / Flickr)
O então secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, durante a Cúpula de Washington da OTAN. (Foto: NATO / Flickr)

Na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Washington, o foco foi a Ucrânia. Na Declaração de Washington, os líderes da OTAN escreveram: “O futuro da Ucrânia está na OTAN”. A Ucrânia solicitou formalmente sua adesão à OTAN em setembro de 2022, mas logo descobriu que, apesar do amplo apoio da OTAN, vários estados-membros (como a Hungria) não se sentiam à vontade em escalar um conflito com a Rússia. Já na Cúpula da OTAN em Bucareste, em 2008, os membros saudaram “as aspirações euro-atlânticas da Ucrânia e da Geórgia de se tornarem membros da OTAN. Concordamos hoje que esses países se tornarão membros da OTAN”. No entanto, o conselho da OTAN hesitou por causa da disputa fronteiriça com a Rússia; se a Ucrânia tivesse sido trazida às pressas para a OTAN e se a disputa fronteiriça aumentasse (como aconteceu), a OTAN seria arrastada para uma guerra direta contra a Rússia.

Na última década, a OTAN expandiu sua presença militar ao longo das fronteiras da Rússia. Na cúpula da OTAN no País de Gales (setembro de 2014), a organização implementou seu Plano de Ação de Prontidão (RAP). Esse RAP foi projetado para aumentar as forças militares da OTAN na Europa Oriental “do Mar Báltico, ao norte, até o Mar Negro, ao sul”. Dois anos depois, em Varsóvia, a OTAN decidiu desenvolver uma Presença Avançada (eFP) na área do Mar Báltico com “grupos de combate estacionados na Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia”. A distância entre Moscou e as regiões fronteiriças da Estônia e da Letônia é de apenas 780 quilômetros, o que está bem dentro do alcance de um míssil balístico de curto alcance (mil quilômetros). Em resposta ao avanço da OTAN, Belarus e Rússia realizaram o Zapad 2017, o maior exercício militar desses países desde 1991. As pessoas razoáveis naquela época teriam pensado que a redução da escalada deveria ter se tornado a maior prioridade de todos os lados. Mas não foi o que aconteceu.


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As provocações dos países membros da OTAN continuaram. Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, os países da OTAN decidiram apoiar totalmente a Ucrânia e impedir qualquer negociação para uma solução pacífica da disputa. Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN enviaram armas e equipamentos para a Ucrânia, com altos oficiais militares dos EUA fazendo declarações provocativas sobre seus objetivos de guerra (para “enfraquecer a Rússia”, por exemplo). As conversas ucranianas com oficiais russos em Belarus e na Turquia foram deixadas de lado pela OTAN, e o próprio objetivo de guerra da Ucrânia (simplesmente a retirada das forças russas) foi ignorado. Em vez disso, os países da OTAN gastaram bilhões de dólares em armas e assistiram, à margem, à morte de soldados ucranianos em uma guerra fútil. Nos bastidores da cúpula da OTAN em Washington, o almirante Rob Bauer, da Marinha Real Holandesa, que preside o Comitê Militar da OTAN, disse à Foreign Policy: “Os ucranianos precisam de mais para vencer do que apenas o que nós oferecemos”. Em outras palavras, os países da OTAN fornecem à Ucrânia apenas armas suficientes para continuar o conflito, mas não para mudar a situação no terreno (seja com vitória ou derrota). Os países da OTAN, ao que parece, querem usar a Ucrânia para sangrar a Rússia.

Culpar a China

A Declaração de Washington da OTAN contém uma seção intrigante. Ela diz que a China “se tornou um facilitador decisivo da guerra da Rússia contra a Ucrânia”. O termo “facilitador decisivo” atraiu uma atenção significativa na China, onde o governo condenou imediatamente a caracterização da OTAN sobre a guerra na Ucrânia. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse que a declaração da OTAN “é mal motivada e não faz sentido”. Pouco depois que as tropas russas entraram na Ucrânia, Wang Wenbin, do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que “a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas e mantidas”. Isso é exatamente o oposto de incentivar a guerra e, desde então, a China tem apresentado propostas de paz para acabar com ela. As acusações de que a China forneceu à Rússia “ajuda letal” não foram comprovadas pelos países da OTAN e são negadas pela China.

Lin Jian fez duas perguntas importantes na coletiva de imprensa de 11 de julho de 2024 em Pequim: “Quem exatamente está alimentando as chamas? Quem exatamente está ‘possibilitando’ o conflito?”. A resposta é clara, pois é a OTAN que rejeita qualquer negociação de paz, são os países da OTAN que estão armando a Ucrânia para prolongar a guerra e são os líderes da OTAN que querem expandir a OTAN em direção ao leste e que negam o apelo da Rússia por uma nova arquitetura de segurança (tudo isso é demonstrado pela parlamentar alemã Sevim Dağdelen em seu novo livro sobre os 75 anos de história da OTAN). Quando o húngaro Viktor Orban – cujo país ocupa a presidência semestral da União Europeia – foi à Rússia e à Ucrânia para falar sobre um processo de paz, foram os países europeus que condenaram essa missão. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, respondeu com uma dura repreensão a Orban, escrevendo que “o apaziguamento não deterá Putin”. Paralelamente a esses comentários, os europeus e os norte-americanos prometeram fornecer à Ucrânia fundos e armas para a guerra. Surpreendentemente, o novo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, até permitiu que a Ucrânia usasse um jato F-16 da Holanda, dado à Ucrânia quando Rutte era o primeiro-ministro daquele país, para atacar o território russo. Isso significaria que as armas de um país da OTAN seriam usadas diretamente para atacar a Rússia, o que permitiria que a Rússia revidasse contra um estado da OTAN.A declaração da OTAN que caracteriza a China como um “facilitador decisivo” permitiu que a aliança atlântica defendesse sua operação “fora de área” no Mar do Sul da China como parte da defesa de seus parceiros europeus. Foi isso que permitiu que a OTAN afirmasse, como afirmou o secretário-geral cessante Jens Stoltenberg em uma coletiva de imprensa, que a OTAN deve “continuar a fortalecer nossas parcerias, especialmente no Indo-Pacífico”. Esses parceiros do Indo-Pacífico são Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul. É interessante notar que o maior parceiro comercial de três desses países não são os Estados Unidos, mas a China (o Japão é a exceção). Até mesmo os analistas do Federal Reserve dos EUA concluíram que “não se prevê uma desvinculação dos processos de produção e consumo globais da China”. Apesar disso, esses países aumentaram de forma imprudente a pressão contra a China (incluindo a Nova Zelândia, que agora está ansiosa para se juntar ao Pilar II do Tratado AUKUS entre a Austrália, os Estados Unidos e o Reino Unido). A OTAN disse que continua aberta a um “engajamento construtivo” com a China, mas não há nenhum sinal de tal progresso.

Biografia do autor: Este artigo foi produzido para a Globetrotter e traduzido por Raul Chiliani para a Revista Opera. Vijay Prashad é um historiador indiano, editor e jornalista. É redator e correspondente principal do Globetrotter. Também é editor da LeftWord Books e diretor do Tricontinental: Institute for Social Research. Escreveu mais de vinte livros, incluindo The Darker Nations e The Poorer Nations. Seus últimos livros lançados foram Struggle Makes Us Human: Learning from Movements for Socialism e (com Noam Chomsky) The Withdrawal: Iraq, Libya, Afghanistan, and the Fragility of U.S. Power.

Fonte: Globetrotter

Vijay Prashad

Vijay Prashad é um historiador, editor e jornalista indiano. Ele é um escritor parceiro e correspondente-chefe do Globetrotter. É editor-chefe da LeftWord Books e diretor do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. Ele é membro sênior não-residente do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China. Autor de mais de 20 livros, incluindo The Darker Nations e The Poorer Nations. Seu último livro é Balas de Washington, com prefácio de Evo Morales Ayma.

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