Com uma vida tão permeada por tecnologias e aplicações quanto a que vivemos, seria estranho pensar música que se esquecesse totalmente delas. Afinal, conta-se e canta-se frequentemente o cotidiano com seus sentimentos milenares e seus elementos sazonais. Por exemplo, antes de subir a construção como se fosse máquina, o trabalhador guardou o celular no bolso ou coisa parecida. Ou teria guardado se a música tivesse sido escrita em época propícia.
Telefone, celular, rádio, televisão, internet, aplicativos e todos os seus verbos relacionados, tudo já apareceu e pode ser encontrado em músicas disponíveis por aí. Na playlist Top Brasil, composta pelas músicas mais tocadas do país na última semana segundo o Spotify, pode-se encontrar, além de nomes específicos como “wi-fi”, “stories”, “waze”, “GPS” e substantivos e verbos que adquiriram novo sentido em nossos tempos como “áudio” e “bloquear”, respectivamente.
Entre os grandes nomes da nossa música, talvez ninguém tenha estado tão atento aos avanços tecnológicos quanto Gilberto Gil. Em tempos de corrida espacial e na consequente chegada do homem à lua, lançou “Lunik 9”. Diante das possibilidades oferecidas pelos computadores, defende a humanidade em composições como “Cérebro eletrônico” e “Futurível”. Em tempos de princípio da internet, fez transmissão online de “Pela internet” em referência ao clássico “Pelo telefone”. Duas décadas mais tarde, se atualizou e atualizou sua música, lançou “Pela internet 2” em live.
Nos últimos tempos, a novidade são as IAs gerativas. Toda gigante de tecnologia parece ter achado importante lançar a sua versão. Ainda que se desvie de um ChatGPT, a Microsoft te empurra um Copilot e o Google, Gemini. Na mais nova atualização do Whatsapp, passamos a ter de engolir a Meta AI e engolir todo o lero-lero que ela será capaz de gerar. Até música. Não deve demorar até que alguém (ou até mesmo Gil) crie uma música sobre IA, qualquer coisa infinitamente melhor que esses novos cérebros eletrônicos.