TRABALHO E PRECARIADO

Maio amarelo: morte e cinismo nas plataformas

No mês de conscientização da segurança viária, liderança dos entregadores denuncia: a precarização ceifa a vida no asfalto. Corporações fingem aderir à prevenção, mas penalizam atrasos e pagam tão mal que trabalhadores não conseguem fazer manutenção de suas motos

Foto publicada no Correio Brasiliense
Foto publicada no Correio Brasiliense

por Edgar Francisco da Silva (Gringo)

Nota de Repúdio da associação Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR) a participação do iFood no movimento Maio Amarelo

O Maio Amarelo é um movimento internacional de conscientização para redução e prevenção de acidentes de trânsito. Seu objetivo é salvar vidas e alertar a sociedade sobre o alto índice de mortes e feridos nas vias. No entanto, quando uma empresa como o Ifood se envolve nessa campanha, é importante questionar sua legitimidade. O iFood, conhecido por seu serviço de entrega de alimentos, tem uma responsabilidade significativa em relação à segurança dos entregadores. No entanto, há sérias preocupações quanto à forma como a empresa trata essa questão:

CADASTRO INADEQUADO DE ENTREGADORES

O iFood permite que pessoas sem CNH e até menores de idade se cadastrem como entregadores de moto. Isso coloca em risco tanto os próprios entregadores quanto os demais usuários das vias.

FALTA DE CAPACITAÇÃO

A profissão de motofrete é de alto risco e requer treinamento adequado. Infelizmente, muitos entregadores não estão capacitados para exercer essa profissão de risco, resultando em acidentes graves, sequelas e óbitos.

ALGORITMO DE PRESSÃO

O iFood utiliza um algoritmo que incentiva os entregadores a correrem para fazer as entregas rápidas ou serão bloqueados na plataforma. Isso leva a infrações de trânsito constantes, como excesso de velocidade, desrespeito a sinais vermelhos e andar na contramão.

LUCRO ALTO, RISCO MAIOR PARA ENTREGADORES E SOCIEDADE

O iFood cobra até 27% dos pedidos dos restaurantes, mas o repasse para os entregadores é irrisório. Entregadores mal conseguem fazer a manutenção para manter suas motocicletas em condições seguras. Trabalham longas jornadas de muitas vezes 12 horas ou mais. Não têm sequer uma alimentação adequada. A soma é veículo precarizado, mal alimentado, exaustos, correndo, sem capacitação em uma profissão de alto risco. O resultado? Acidentes frequentes que afetam não apenas os entregadores, mas toda a sociedade. Enquanto o aplicativo lucra, quem paga o preço são os entregadores e toda sociedade.

FALTA DE INVESTIMENTO EM SEGURANÇA

Apesar das reuniões com a empresa, o iFood não demonstrou um compromisso significativo com a segurança dos entregadores. Pelo contrário, há evidências de que a empresa faz lobby no Congresso para enfraquecer a lei do motofrete.

Dessa forma, a participação do iFood no Maio Amarelo parece contraditória. Uma empresa que contribui para acidentes de moto, sequelas e óbitos não deveria ser associada a uma campanha que visa justamente a segurança no trânsito. É essencial que o iFood reveja suas práticas e priorize a segurança de seus entregadores, em vez de apenas aderir a campanhas de conscientização apenas com patrocínio, sem ações efetivas.

Edgar Francisco da Silva (Gringo) presidente da AMABR (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil).