Arte

O Galileu de Denise: uma bela herança da pandemia para se recordar

Monólogo de Denise Fraga transmitido durante a pandemia ainda pode ser conferido no YouTube

O Galileu de Denise: uma bela herança da pandemia para se recordar

Lembram daquela época em que havia isolamento social? Daquela época quando ninguém tirava da boca a palavra quarentena – e do rosto, a máscara? Então, houve aquela época de medo e preocupação onde tudo o que a gente queria era vacina e, enquanto ela não chegava, nos entretemos com todo tipo de lives. Cantores soltaram suas vozes por transmissões ao vivo, alguns com recorde de audiência, e atores encenaram o teatro possível para o momento, sendo uma delas Denise Fraga e seu monólogo, feito em casa, Galileu e eu – A arte da dúvida.

A atriz já havia vivido Galileu em uma grande produção alguns anos antes. Sucesso de público, sucesso de crítica, em 2020, foi desafiada a apresentá-lo novamente em uma nova situação: durante a pandemia, solo. De maneira enxuta, minimalista e um tanto metalinguística, Denise nos lembra da história do famoso cientista conforme o texto talhado por Bertolt Brecht. Um elogio à coragem, à curiosidade, mas também à humanidade de que é feita o ser humano e suas vivas inquietações.

Além de trechos de beleza ímpar, destaco particularmente a oração que transcrevo a seguir: Santo Deus, não aplaque a minha fúria. Proteja a minha indignação dos dias iguais, dos dias banais. Renove a minha perplexidade diante de tanto absurdo. Deus, meu Pai, mantenha aceso o fogo que incendeia minha alma para que eu possa forjar o magma da minha fúria em assertividade e paixão. Canalize o jorro da minha indignação furiosa em gotas de lucidez implacável para minha luta diária, constante a caminho da liberdade e da verdade. Amém.” O monólogo foi transmitido e retransmitido e ainda pode ser acessado por este link, Festival Cultura em Casa.