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O presidente que o Brasil não teve

Silvio Santos fez bonito nas pesquisas, mas ficou no quase

Silvio Santos faz sinal de positivo, durante campanha
Foto: Divulgação

Jânio Quadros foi eleito em 1961 e depois renunciou. Assumiu o vice, João Goulart, mas antes de encerrar o mandato veio 1964, um ano que só terminaria com o fim da Ditadura Militar. Quase três décadas depois, em 1989 foi realizada a primeira eleição para presidente pelo voto popular. O clima era de festa e nada menos que 22 candidatos disputaram oficialmente o pleito. Entre esses, Ulysses Guimarães (PMDB), Lula (PT), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Roberto Freire (PCB), Enéias Carneiro (PRONA), Ronaldo Caiado (PSD), além dos dois Fernandos: Gabeira (PV) e Collor (PRN).

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Entretanto, Silvio Santos aceitou finalmente o desafio e também estava na disputa. A história começou um ano antes, como pré-candidato a prefeito de São Paulo. A ideia era disputar pelo PFL, que se tornaria o DEM e hoje é parte do União Brasil. Não deu certo, mas as negociações se estenderam para a campanha presidencial de 1989. Contudo, ele acabou se filiando ao Partido Municipalista Brasileiro (PMB), uma legenda de pouca expressão que acabaria extinta logo após o pleito.

A campanha focava em sua imagem de empresário bem-sucedido e comunicador popular. Suas promessas eram genéricas. Na propaganda eleitoral, Silvio Santos defendia os seguintes pontos: 1) alimentação; 2) saúde; 3) habitação; 4) educação; 5) reduzir a inflação; 6) corrigir o salário conforme a inflação. Em suas palavras:

“Esses são os meus objetivos. Vou me cercar de homens, sejam de que partido forem, não importa. Mas terão que ser homens que pensam como eu. Pretendo agir, primeiro, com sensatez. Segundo, com justiça. Terceiro, com honestidade. E esses homens, as melhores capacidades deste país, poderão se unir a mim para que juntos possamos fazer deste país, um país mais próspero e deste povo, um povo que tenha melhores condições de vida”, encerrou o apresentador em sua propaganda eleitoral.

O jingle utilizado na campanha era uma paródia do famoso tema de seu programa de televisão, “Silvio Santos vem aí, olê, olê, olá”. Confira no vídeo.

Apesar de alcançar 30% de intenção de votos, o PMB demorou para oficializar a candidatura, que acabaria barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além dos questionamentos a respeito de supostas irregularidades no registro da candidatura, por ser dono da segunda maior emissora de TV do Brasil, Silvio Santos foi acusado de competir com vantagem sobre os demais candidatos.

Certamente aliviados, os que lideravam as pesquisas ficaram em silêncio sobre a decisão judicial. A exceção foi Enéias Carneiro, que usou seus míseros 15 segundos de propaganda para defender o apresentador.

Por fim, Silvio Santos ainda negociaria com o PFL, visando a prefeitura de São Paulo. Em 1992, o vice seria Júlio Casares, ex-presidente do São Paulo Futebol Clube. Parece até pegadinha com o Ivo Holanda, mas a convenção do partido acabou em pancadaria e a Justiça Eleitoral cassou o registro dos candidatos da sigla.

A partir daí, a sua dedicação à política seguiu sendo a de sempre: manter uma boa relação com o presidente do momento. Azar da política, sorte para a televisão brasileira.

O mais querido entre os poderosos

Ainda há quem lembre de assistir sobre a morte de Assis Chateaubriand na TV Tupi. Alguns mais jovens, descobriram quem era Adolpho Bloch só quando os desenhos da Manchete foram interrompidos para noticiar a morte do dono da TV. Ainda é viva na memória a cobertura da Globo pelo passamento de Roberto Marinho, mas quem eles eram para a população? Eis o ponto: Silvio Santos é diferente porque a história dele se mistura com a do brasileiro.

Assim como cantam os Titãs, domingo “É dia de descanso, Programa Silvio Santos”. Por seis décadas o apresentador foi parte do final de semana. Apesar de nem sempre liderar a audiência, assim que o Fantástico terminava, muita gente espremia mais um pouquinho do domingo mudando para o SBT. Assistir ao quadro “Câmeras Escondidas” ajudava a espantar a tal “depressão pré-segunda-feira”. E, ouvindo sua risada inconfundível, muitos iam se preparando para dormir e voltar à rotina.

São lembranças que permanecerão vivas na memória de quem viveu e também de todo jornalista que escreveu sobre esse 17 de setembro de 2024, data histórica para a comunicação no Brasil.

Por outro lado, passagens como a longa disputa judicial com o ator Zé Celso – por um terreno – demonstram que “Topa Tudo por Dinheiro” não foi apenas o título de um programa do SBT. Era também uma frase que ajuda a entender a personalidade do grande empresário.

Enfim, era humano e disse aos familiares que não queria cortejo ou velório públicos. Gostaria de ser lembrado vivo, mais ou menos como no seu tema mais famoso: “vamos sorrir e cantar, do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar”.

E assim foi, sem dizer adeus, em um enterro de gente comum, apesar da fortuna bilionária. Por fim, sua morte bate fundo porque nos lembra que tudo passa.