Frederik Peeters publicou “Pílulas Azuis: uma história de amor positiva” em 2001. Mesmo tendo sido premiado na época, só mais tarde, quando alcançou novos idiomas, se tornou um best seller e teve sua HQ adaptada, inclusive, para um filme de TV.
A partir do olhar de Peeters, somos apresentados ao seu universo e, antes que fiquemos aflitos com os desencontros tão dignos de ficção, a realidade se impõe e os leitores já têm o casal unido e enfrentando um a um os desafios que a vida já tinha ditado (a parceira ter HIV, por exemplo) e outros que foi lhe apresentando.
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Inevitavelmente, o vírus tem um papel central na história. É ele que provoca direta ou indiretamente as maiores angústias e medos, é com ele que o protagonista e seus pares precisam aprender a lidar, mas há outras situações tão interessantes que merecem algum destaque e talvez façam valer uma releitura.
Em primeiro lugar, Pílulas azuis funciona como registro de uma época bem específica. Diferentemente das representações ainda defasadas que vemos na mídia, o cenário da virada do milênio é de alguma informação, o portador já não é ostracizado como antes, porém, ainda há muito desconhecimento, mesmo por parte dos portadores. A HQ cumpre uma excelente função indo além: nos créditos, atualiza a situação da doença, desfaz receios e deixa mensagens por meio dos seus filhos.
E não menos importante, especialmente neste mês dos pais: a história aborda as relações familiares entre o autor e sua namorada/esposa & entre o autor e o filho dela, também portador do vírus. O desenvolvimento da relação desses últimos é absolutamente comum com atritos e ciúmes diversos, tudo conforme o esperado, mas é gracioso na mesma proporção: em dado momento, Peeters repara que ama aquele menino quando passa a temer por sua morte. Ou seja, ainda que o garoto tenha pai biológico, vemos o autor se tornando um paizão, numa metamorfose que vai muito além de pílulas azuis.