Resistência

Um Ramadã de resiliência entre destroços

A lua crescente foi avistada e anunciou o início do Ramadã na noite de sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025, no Oriente Médio. E na medida em que a lua foi sendo avistada no mundo, cerca de 1,9 bilhão de muçulmanos — quase um quarto da população mundial — iniciaram o período religioso mais sagrado do ano, de reflexão, jejum e celebração.

Como a lua leva 29,5 dias para completar um ciclo lunar, assim o Ramadã será observado, da Indonésia, que tem a maior população muçulmana do mundo, com 240 milhões, aos campos arrasados no Líbano, na Síria e aos 2,2 milhões de muçulmanos em Gaza

Em meio à diáspora, estão os palestinos deslocados à força, entre eles os 1.400 que chegaram a Doha no último ano, saindo de Gaza em meio ao genocídio.

O que impressiona nesse início do mês sagrado  é a resiliência dos que organizam seu período de celebração sobre escombros. Nada é como antes, quando casas e lojas enchiam suas sacadas e vitrines com lanternas iluminavam as ruas desafiando com geradores e outros improvisos as interrupções de eletricidade em Gaza devido à escassez imposta por Israel.

Hoje o que era celebrado nas mesquitas não encontra senão ruínas nos antigos templos sagrados, e no norte de Gaza não há mais sacadas, nem as casas das sacadas. “Muitos dos meus sobrinhos e sobrinhas se encontram vivendo em tendas, enfrentando a fome e sendo deslocados pela devastação da guerra. Outros deixaram Gaza completamente, buscando refúgio em outro lugar”, conta  ao Middle East Eye Ghada Abed, que observa o contraste entre as sombras de hoje e Gaza vibrante do passado.

O Ministério da Saúde de Gaza informou os dados oficiais da guerra em Gaza contabilizando 48.365 palestinos mortos e   111.780 feridos. Mas o Escritório de Mídia do governo atualizou seu número de mortos para pelo menos 61.709, dizendo que milhares de palestinos desaparecidos sob os escombros são presumivelmente mortos.

Apesar do sofrimento extremo, os sinais do Ramadã despontam na forma de bandeirinhas ou lanternas improvisadas com caixas de papelão sobre os destroços. Nas áreas não devastadas, imãs pedem que as celebrações ocorram nas casas.  Nas lojas, comerciantes acumulam prejuízos mas enfeitam as lojas com mercadorias para ajudar a enfeitar o Ramadã de Gaza

Assista: Palestinos de Gaza se preparam para o Ramadã entre as ruínas

Na Síria, onde 14 anos de guerra deixaram o país em destroços,  3 milhões de casas e quase 10 mil escolas foram destruídas, mas a população vive seu primeiro Ramadã sem Bashar Al Assad, e isso muda o sentimento de desesperança para os que ficaram e para os que retornam de países para onde migraram.

Ramadã na cidade de Douma, na Síria, em 2023 [Yusuf El Bustani/ Agência Anadolu/ Getty Images]
Ramadã na cidade de Douma, na Síria, em 2023 [Yusuf El Bustani/ Agência Anadolu/ Getty Images]

Muitos ainda se recordam das imagens que se tornaram virais de centenas de sírios sentados em mesas de banquete do final do Ramadã no meio da cidade destruída de Douma em 2023.

A cena se repete nas cidades sírias, onde a população celebra o fim da guerra mas tem uma nova batalha além da reconstrução: a saída de Israel que até hoje ocupa as Colinas de Golã e disputa o controle do futuro do país.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Diário Carioca.

Compartilhe esta notícia
- Publicidade -

Mais Lidas

- Publicidade -
Parimatch Cassino online