Aruanas - Atores indígenas comentam sobre seus papéis e a importância da representatividade em ‘Aruanas’

‘Aruanas’ leva à TV aberta uma história forte sobre a devastação das nossas florestas e o garimpo ilegal na região amazônica. Mas além da pauta ecológica, a série também se destaca pela sua representatividade. Muitos papéis foram vividos por pessoas que conhecem bem a vida naquela região. Grande parte dos personagens da cidade fictícia de Cari, por exemplo, foram interpretados por atores amazonenses. E os indígenas foram representados por atores de etnias locais.

 

Abraão Mazuruna e Kay Sara são exemplos de atores indígenas que se juntaram ao elenco de ‘Aruanas’ para viverem os nativos Raoni e Payall. Eles emprestaram um pouco das suas próprias vivências e conhecimentos para darem vida aos personagens da ficção. Além de trazer representatividade para a série e conferir veracidade às cenas, o trabalho deles foi importante também para o restante do elenco:

 

“A primeira cena que gravei no Amazonas foi a do massacre na Aldeia. Ver aqueles atores e figurantes indígenas que passam por aquela situação na realidade, cobertos de sangue cenográfico foi muito forte, mexeu muito comigo”, comenta Débora Falabella, que vive a jornalista e ativista Natalie. Contracenar também com a Kay Sara (Payall), foi incrível. Hoje somos amigas e virei fã do seu trabalho como atriz e ativista. Ela me ensinou muita coisa que eu não sabia. Na cena do parto da Payall, foi muito impressionante ver como ela colocava muita verdade na atuação”, pontua Débora.

 

Na entrevista abaixo, Abraão e Kay Sara comentam sobre a atuação em ‘Aruanas’, o processo de composição dos personagens e a importância da representatividade indígena na arte. 

 

No sétimo episódio de ‘Aruanas’, que vai ao ar terça-feira, dia 09 de junho, Felipe (Gustavo Falcão) devolve dinheiro a Natalie (Débora Falabella) e ela se junta com Verônica (Taís Araújo), Amir (Rômulo Braga) e Gregory (Gustavo Vaz) para traçar o plano de fuga dele. Felipe é atingido por tiros. Escrito por Estela Renner e Marcos Nisti, o thriller ambiental vai ao ar todas às terças-feiras, logo após a novela “Fina estampa”. A série – uma produção original da Globo exclusiva para o Globoplay, em coprodução com a Maria Farinha Filmes – conta com direção artística de Carlos Manga Jr, direção geral de Estela Renner, parceria técnica do Greenpeace e Pedro de Barros colabora com o roteiro. 

 

‘Aruanas’ é uma série que trata de um tema urgente, a crise ambiental mundial e o trabalho dos ativistas ambientais. Como foi trabalhar em uma produção com uma temática tão delicada e importante?  

Abraão: ‘Aruanas’ é urgente. A série é importante para mostrar para as pessoas que ainda existe uma possibilidade de lutar para alcançar o que queremos, sermos protegidos, pensarmos mais sobre a questão indígena. O que nós passamos ali é realidade, não é só ficção.

 

Kay Sara: ‘Aruanas’ veio no momento certo. A floresta está sendo ainda mais destruída atualmente. A série chega para abrir os olhos das pessoas, porque isso acontece na vida real de quem mora ali. 

 

Como foi a preparação para viver o personagem? 

Abraão: Eu nasci na aldeia 31, no rio Solimões. Quando criança, eu vivi na realidade aquilo que meu personagem viveu na ficção. Não me lembro o bastante, mas eu vi um ataque de madeireiros invadindo nossas terras .Tudo isso voltou pra mim como se fosse real agora no presente em ‘Aruanas’, e acabei levando essa experiência para o Raoni da série. 

 

Kay Sara: Eu trouxe um pouco da minha mãe para essa personagem, sobretudo porque a Payall também é uma mãe. Eu tenho esse exemplo dela, de uma mãe guerreira, ativa, que toma as decisões. Ela já me falou de muitas situações que já aconteceram antigamente com ela e com a Aldeia, e eu sempre acabo trazendo um pouco dessa minha ancestralidade para os meus personagens. 

 

O que significa para você a inclusão de atores indígenas em produções audiovisuais? 

Abraão: Há muitos anos, a gente não tinha oportunidades como temos agora. Na minha etnia, Matsés, eu sou o primeiro ator que surgiu. É importante representar nacionalmente os indígenas para mostrar que nós também temos a capacidade de mostrar nosso povo, de sermos independentes, atuar, fazermos o que quisermos. 

 

Kay Sara: Quando uma pessoa se vê na TV, no cinema ou na publicidade, ela se sente incluída no ambiente em que vive. Na minha vida toda, e muito antes, todos os filmes sempre foram feitos por não indígenas. Nossas referências são essas. Quando aparece qualquer outro tipo de pessoas miscigenada, você começa a ver que você também pode trabalhar com isso. Você acaba se tornando uma pessoa existente dentro da sociedade.

 

Como foi trabalhar com o elenco e os autores? 

Abraão: Eles são gigantes. Eu já tinha assistido a Débora Falabella em ‘Avenida Brasil’, e foi incrível poder conhecê-la pessoalmente. Me senti muito feliz em fazer parte desse elenco tão maravilhoso. Eu ajudei também com a tradução de algumas falas do roteiro. Colaborei com os autores Marcos Nisti e Estela Renner a passar do português para a minha língua, da etnia Matsé, algumas falas dos personagens indígenas. 

 

Kay Sara: Eu tive mais contato com a Débora Falabella. Ela é muito sensível, está sempre pronta para ouvir. Desde o primeiro momento que nos conhecemos, ela já me via como uma artista. Hoje nós somos amigas.

 

Comunicação Globo

São Paulo, 08 de junho de 2020