Associações da imprensa boliviana denunciam ameaças contra cartunista

La Paz, 21 out (EFE).- As associações de imprensa da Bolívia pediram nesta quinta-feira garantias ao cartunista Abel Bellido Córdova, que recebeu ameaças após a publicação de uma charge sobre o procurador-geral do país, Wilfredo Chávez, relacionada com a recontagem dessa entidade dos registros eleitorais de 2019.

Na semana passada, a Procuradoria-Geral da Bolívia revisou as atas das fracassadas eleições de 2019, um processo que não contou com a participação da oposição ou do órgão eleitoral, que alegaram não terem sido convidados.

Na polêmica caricatura, o procurador aparece tirando um coelho de uma cartola que exibe a mensagem “sem fraude”.

O cartunista, também conhecido como Abecor, alertou que recebeu várias ameaças de morte através das redes sociais, que ele mesmo denunciou em sua conta no Twitter.

A Associação Nacional de Jornalistas da Bolívia (ANPB) e a Associação de Jornalistas de La Paz (APLP) rejeitaram as ameaças contra Bellido Córdova e denunciaram que essas intimidações “violam seu direito humano e constitucional à liberdade de expressão”.

Em comunicado conjunto, os sindicatos exigiram do governo de Luís Arce a proteção da vida e obra do editor gráfico do jornal “Página Siete” e pediram a abertura de inquérito.

A ANPB e a APLP “rejeitam as ameaças covardes contra sua vida, que devem ser rigorosamente investigadas por lei. Sem liberdade de expressão não há democracia e ela morre nas trevas das paixões autoritárias”, afirmaram na nota.

A convocação dos sindicatos jornalísticos acontece depois que o próprio procurador Wilfredo Chávez publicou uma mensagem sobre o desenho de Abecor.

“A minha resposta”, escreveu Chávez no Twitter ao lado de uma imagem mostrando um rolo de papel higiênico no qual está impressa uma das capas do jornal onde Abecor trabalha, publicação que também foi divulgada na conta do Procuradoria-Geral da Bolívia.

A Missão na Bolívia do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu que “respostas” e para que a integridade e o trabalho da Abecor fossem protegidos.

“O discurso de ódio não tem lugar em uma sociedade democrática e é um ataque à liberdade de imprensa e expressão. Ameaças contra #Abecor exigem respostas claras que protejam o trabalho dos jornalistas e promovam uma imprensa livre, independente e pluralista”, observou em sua conta no Twitter.

A revisão feita pela Procuradoria-Geral da República sobre os registros eleitorais das eleições fracassadas de 2019 tem sido objeto de debate no país, uma vez que o próprio Supremo Tribunal Eleitoral indicou que, devido ao princípio da “exclusão”, os atos passados “não são mais válidos” e as análises subsequentes “não têm outro efeito” que não seja “o que as partes interessadas desejam dar”.

Nas conclusões do processo, o procurador Chávez, que era advogado do ex-presidente Evo Morales, destacou que “não houve fraude eleitoral nas eleições de 2019 e que a Bolívia não é um país fraudulento”. EFE

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