Brasil é recordista mundial em mortes de profissionais de enfermagem por covid-19

Já são 208 as enfermeiras e enfermeiros mortos na frente de batalha da covid-19 no Brasil, o mais elevado número do mundo. Uma letalidade de 2,36% segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

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“É um triste recorde”, lamenta um dos diretores do Cofen, Gilney Guerra. “Isto representa 30% da soma dos profissionais que morreram em todos os países”, compara. “Na média, desde 16 de março, estamos perdendo duas pessoas a cada dia”, acrescenta. 

E o que explica números tão devastadores? Segundo o diretor, o primeiro fator é a falta dos equipamentos de proteção individual (EPIs) ou a disponibilidade apenas de material de segurança inadequado. “Já recebemos, aqui no Conselho, mais de seis mil denúncias sobre isso”, relata Guerra.

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Outra causa apontada pelo conselho é a falta de treinamento de pessoal para lidar com a doença.

“Os hospitais não estavam preparados, tudo era muito novo”, registra. O enfermeiro lembra que o processo de intubação de um paciente de covid-19, por exemplo, provoca a liberação de grande carga viral. “O profissional tem que estar muito bem protegido para não se contaminar nesse momento”, exemplifica.

Contaminação passa de 20 mil

O Observatório da Enfermagem,  site implantado pelo Cofen para medir o avanço do coronavírus entre a categoria, revela que 20.206 enfermeiros e enfermeiras foram contaminados. Entre eles, 210 permanecem internados. 

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A maioria das mortes (65,38%) ocorreu entre as mulheres, que também representam 85% dos casos de contaminação. Entre todos os óbitos registrados – homens e mulheres – em 57 casos, os enfermeiros tinham entre 41 e 50 anos. Em outras 51 mortes, os profissionais tinham idade entre 51 e 60 anos. Aqueles que morreram com idade entre 60 e 70 anos também totalizaram 51.

“Havia muita gente trabalhando mesmo pertencendo a grupos de risco, o que aumentou o número de mortes”, observa Gilney Guerra. 

Situação nos estados 

São Paulo lidera o número de óbitos entre enfermeiras e enfermeiros, com 40 registros, em seguida vem o Rio de Janeiro com 36, Pernambuco com 27 e Amapá com 16. Os quatro estados apresentaram o pior quadro.

Nos ultimos dias, como se não bastasse o risco de morte e o enfrentamento da doença, enfermeiros e enfermeiras tiveram que lidar com outro problema: o incentivo do presidente Jair Bolsonaro aos seus apoiadores para invadirem hospitais e documentarem se os leitos estavam ou não ocupados.

“Foi uma declaração totalmente descabida, estimulando a desordem”, considera o diretor. “Criou um risco para os profissionais, para os pacientes e para os próprios invasores”, sintetiza.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko e Raquel Júnia