Descaso

Bancas de cerveja em Ceilândia expõem a exploração trabalhista sob fachada de festa e sensualidade

Jovens são submetidas a metas de venda abusivas em um negócio de alto lucro que opera na informalidade, alimentando um consumo de álcool desenfreado.

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Mulher que trabalha na chamada “banca do trepa-trepa” em Ceilândia, no DF. Foto: Metrópoles

O cenário festivo da Feira Permanente do Setor P Norte, em Ceilândia, no Distrito Federal, esconde um sistema de exploração trabalhista. J

ovens mulheres, com idade entre 17 e 25 anos, são as principais operárias do que se tornou conhecido como “banca do trepa-trepa”, um negócio de venda de cerveja que mistura apelo sensual com a promoção do consumo excessivo de álcool. A apuração é da coluna Na Mira no Metrópoles.

Precarização e Metas Abusivas

O trabalho das mulheres, conhecidas popularmente como “iscas”, está limitado à venda de bebidas, mas o ambiente reforça a vulnerabilidade. Com comissão por cada garrafa vendida e uma meta diária de 15 unidades, a remuneração semanal pode chegar a cerca de R$ 800. Cada banca opera com até seis mulheres. A principal estratégia de venda é o apelo sensual e a garantia de que as bebidas estejam geladas.

A remuneração de R$ 5 por garrafa, além de uma ajuda de custo para o transporte, demonstra a precarização do emprego informal. Esse modelo de negócio se beneficia da falta de direitos trabalhistas e da necessidade financeira de uma juventude que enfrenta um mercado de trabalho cada vez mais instável, em um contexto de ultraliberalismo que promove o desmonte das garantias sociais.

Lucro Alto, Preço Alto

Apesar dos preços exorbitantes para o consumidor — uma long neck por R$ 15 e um trio de “litrão” por até R$ 93 —, o negócio é lucrativo para os donos das bancas. O consumo dos clientes pode chegar a R$ 3.000 em uma única tarde. A música alta, com gêneros como funk, sertanejo e pagode, completa a atmosfera festiva, desviando o foco da realidade econômica e social que permite a existência de tal mercado.

A precarização do trabalho é um tema que tem sido constantemente debatido no Brasil. A falta de direitos trabalhistas é uma preocupação da nossa economia, e a falta de garantias sociais é uma questão de direitos humanos.

Ainda que o Brasil tenha saído do Mapa da Fome da ONU, a realidade da informalidade e da insegurança econômica persiste, mostrando que o sucesso estatístico não reflete o cenário de vulnerabilidade social que atinge milhares de brasileiros.

Questão Social e Econômica

A realidade dessas bancas em Ceilândia, assim como em diversas cidades, é um sintoma da desigualdade social e da precarização do trabalho que assola o país. A exploração da informalidade e do apelo sensual para gerar lucro demonstra a falha de um sistema que deveria garantir condições dignas de vida.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.