Educação

Cai o número de diretores de escolas estaduais contratados por indicação

De acordo com pesquisa, a maioria chegou ao cargo por processo seletivo e eleição

Foto: Sam Balye / Unsplash
Foto: Sam Balye / Unsplash

A nomeação de diretores de escolas estaduais no Brasil tem passado por uma transformação significativa, com um aumento notável naqueles que chegam ao cargo através de processos seletivos e eleições da comunidade escolar. Em 2019, apenas 12,7% dos diretores foram selecionados por esses métodos, número que subiu para 26,1% em 2023. Em contrapartida, o percentual de diretores contratados exclusivamente por indicação da gestão caiu de 24% em 2019 para 20% em 2023.

Os dados foram revelados por uma pesquisa intitulada “Perfil dos(as) diretores(as) e desafios da gestão escolar nas redes estaduais de educação no Brasil”, encomendada pelo Instituto Unibanco, que combinou informações do Censo Escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Especialistas afirmam que a forma de acesso ao cargo e a origem dos diretores têm impactos significativos na rotina escolar.


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Duda Quiroga, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), destaca a importância desse avanço: “É uma bandeira histórica do sindicato. A gente sempre reivindicou que tivessem eleições diretas em todas as redes. É a possibilidade de escutar a comunidade escolar e um processo de exercício de democracia”, afirmou Quiroga. Ela acrescenta que a eleição permite a construção de projetos político-pedagógicos alinhados com a realidade de cada escola.

Perfil dos Diretores

A pesquisa também trouxe à tona detalhes sobre o perfil dos diretores das escolas estaduais. Em 2023, 50,6% dos diretores eram brancos, 24,8% pardos, 4,5% pretos, e 17,6% não declararam cor/raça. Em comparação, em 2011, esses números eram 55,7%, 33%, 6,2%, e menos de 2%, respectivamente. No que se refere ao sexo, a proporção de mulheres no cargo diminuiu de 76,4% em 2011 para 66,5% em 2023, enquanto a de homens aumentou de 23,6% para 33,5%.

Quando se considera a faixa etária, em 2013, 45% dos diretores tinham entre 40 e 49 anos, e 35% tinham 50 anos ou mais. Em 2023, 50% estavam com 50 anos ou mais, enquanto 35% tinham entre 40 e 49 anos. A formação acadêmica também apresentou mudanças: em 2011, 33,6% tinham graduação em pedagogia e 48% em outras áreas da educação. Em 2023, esses percentuais foram 38% e 55,2%, respectivamente.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

Desafios da Gestão Escolar

O levantamento abordou ainda desafios enfrentados pelos diretores, como a sobrecarga de trabalho, que se intensificou durante a pandemia de Covid-19. Em 2021, mais de 60% dos diretores relataram trabalhar acima de 40 horas semanais, contra 35% a 42% no período pré-pandemia. As principais atividades incluem coordenação administrativa, gerenciamento de recursos financeiros e planejamento pedagógico.

Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, aponta possíveis causas para essa sobrecarga: “Uma delas foi a recomposição das aprendizagens. Os estudantes voltaram da pandemia com várias lacunas e isso exigiu um trabalho mais intensivo das escolas.”

Além disso, a pesquisa identificou a insuficiência de recursos e pessoal como um problema persistente. Menos de 50% dos diretores afirmaram que esses recursos eram suficientes para não afetar o funcionamento da escola.

A Importância da Formação e Capacitação

A falta de formação específica para diretores também foi destacada. João Marcelo Borges, gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco, ressaltou a necessidade de capacitação adequada: “Se os nossos professores são mal formados e os diretores sequer são formados para suas funções, é difícil gerar uma educação de qualidade.”

Em 2023, estados como Piauí, Brasília, e outros apresentaram percentuais mais altos de diretores com curso de formação em gestão escolar, variando entre 30% e 100%. Isso reflete um avanço, mas ainda há disparidades significativas entre as unidades federativas.