Entrevista: Nasi recupera as rédeas da carreira e promete lançar biografia polêmica

Nasi recupera as rédeas da carreira e promete lançar biografia polêmica

Nasi está mais sereno do que nunca. Para o cantor, envelhecer e amadurecer fez muito bem. Antes de dar qualquer declaração desastrosa, o outrora polêmico artista agora emite opiniões mais polidas. Isso, no entanto, não quer dizer que suas respostas estejam isentas de um tom crítico. Nada disso. Nasi apenas está cansado de enfrentar imbróglios jurídicos por conta da sua sinceridade e fanfarronice.Tanto que, em entrevistas, não cita mais o nome de seus antigos desafetos. Deixou no passado as contendas públicas que travou com os ex-integrantes do Ira! e com o seu irmão e ex-empresário, Junior Valadão. O momento de Nasi é voltado inteiramente à divulgação de sua carreira solo, que tem se solidificado aos poucos. Hoje, o cantor se orgulha de ter recuperado o prestígio profissional dentro do mercado e já ostenta uma agenda de shows com cerca de 70 apresentações anuais.

Fora isso, teve seu trabalho reconhecido internacionalmente ao ser indicado ao GRAMMY Latino em 2010, na categoria Melhor Álbum de Rock Brasileiro. Agora, o cantor se prepara para lançar novos projetos e, a exemplo de Lobão, passar sua vida a limpo por meio de uma biografia que promete ser esclarecedora e polêmica. A seguir, Nasi comenta esses assuntos e adianta outras novidades. (por Helder Maldonado).

Visto Livre: Qual a importância de ser indicado na categoria de Melhor Disco de Rock Brasileiro do GRAMMY Latino?

Nasi: Posso dizer que esse foi o maior e mais importante prêmio que o projeto Vivo Na Cena poderia participar. Digo isso, pois trata-se de uma premiação cujo processo de votação é muito justo. Os votantes são profissionais envolvidos com o show business. Não é como aqueles prêmios nos quais os melhores trabalhos são eleitos segundo votação popular. Nesses casos, quase nunca ganha quem merece, mas sim quem tem o maior fã-clube. Participar dessa categoria foi fenomenal por outro motivo: o Vivo na Cena era um projeto independente com distribuição da Coqueiro Verde e que não teve a divulgação e o sucesso dos demais concorrentes, que no caso eram Charlie Brown Jr., NX Zero, Capital Inicial e Andreas Kisser. Só o fato de ser indicado já é surpreendente para um produto que não foi lançado por uma major.

Visto Livre: Esse reconhecimento tem refletido em sua agenda de shows?

Nasi: Sim. Hoje faço quase a mesma quantidade que o Ira! fazia. São cerca de 70 apresentações anuais. Dessas, mais ou menos 50 são realizadas com a minha banda.

Visto Livre: E como são feitas as demais apresentações?

Nasi: O restante dos shows eu faço no circuito corporativo, sozinho ou como convidado. O Mingau, baixista do Ultraje a Rigor, tem o projeto Geração 80, no qual reúne artistas surgidos nessa década para que se apresentem em eventos corporativos ou não. Muitas vezes ele me chama e, então, canto ao lado de figurões como Roger Moreira, Kid Vinil e George Israel. Também mantenho contato com o produtor Afonso Nigro, que me contrata para esse tipo de evento corporativo, que no fim das contas representa 30% dos shows que faço durante o ano.

Visto Livre: O seu primeiro disco solo, Onde os Anjos Não Ousam Pisar, foi bem recebido pela crítica, no entanto não pode ser mais encontrado à venda. Pretende relançá-lo?

Nasi: Recentemente, comprei os direitos fonográficos do disco, que pertenciam à Agência Produtora. Pretendo reeditá-lo e colocá-lo à venda novamente. Mas enquanto isso não acontece, o álbum pode ser baixado na íntegra no meu site. Aliás, todos meus projetos solos ou com os Irmãos do Blues estão disponíveis gratuitamente no site.

Visto Livre: Por que resolveu disponibilizar seus discos gratuitamente no site?

Nasi: Sejamos sinceros: disco físico hoje em dia serve apenas como cartão de visitas para você ter como mostrar seu trabalho para contratantes. Continuo lançado novos projetos mais como registro histórico mesmo, pois não espero nenhum retorno financeiro com isso.

 

Visto Livre: Mas você pensa em lançar coisas novas num futuro próximo?

Nasi: Sim. Mas como já fiz esse projeto ao vivo recentemente, o próximo trabalho será um pouco mais ousado. Penso em lançar novas músicas e criar um concurso para que jovens cineastas produzam video clipes para as faixas. Irei liberá-las aos poucos no site e depois junto tudo em um DVD.

Visto Livre: Já que retornar ao Ira! está fora de questão, não pensa em reunir os Irmãos do Blues para uma turnê, nem que seja de despedida?

Nasi: Não faz mais sentido. Esse era um projeto que eu tinha enquanto estava à frente do Ira!. Era minha válvula de escape. Hoje, já realizo shows com um repertório que eu mesmo seleciono. Algumas vezes até insiro músicas dos Irmãos do Blues. Mas agora é hora de desenvolver a carreira solo do Nasi. O que penso em fazer para preservar a memória desse projeto é tentar relançar os quatro discos que gravei com a banda. Estou em negociação com o Pena Schmidt para liberação desses álbuns, já que eles foram lançados pelo seu selo, o Tínido.

Visto Livre: Em 2008, você estava preparando a gravação de um CD em parceria com a Vanessa Krongold, do Ludov, e produção do Rafael Ramos. Por que esse projeto nunca foi finalizado?

Nasi: Na época, a crise financeira atingiu o mundo todo. Então, o Rafael Ramos achou por bem adiarmos o disco para um momento de maior saúde financeira para a gravadora Deckdisc. Desde então, não tocamos mais no assunto. Aliás, se ele quiser retomar do ponto em que paramos, estou disposto.

Visto Livre: O Ira! terminou em 2007, mas ainda é uma das bandas de rock mais populares do país. Não pensa em reeditar os discos da banda ou lançar produtos raros?

Nasi: Lançar uma caixa com todos discos da banda é algo inviável. Fomos contratados de diversas gravadoras, tais como Warner, Abril Music, Paradoxx, Sony e Universal. E relançar cada álbum separadamente é algo que não depende só de mim. Recentemente, o Marco Mazzola me procurou com a intenção de lançar um DVD com as participações do Ira! e do Ultraje a Rigor no Rock In Rio 3, em 2001. Não tive interesse em conversar sobre o assunto, porque o passado do Ira! não me atrai. Foi uma fase bacana da minha vida, mas que prefiro não me manifestar mais a respeito.

Visto Livre: Com o fim do Ira! houve muitas trocas de acusações e processos. Pretende esclarecer esses imbróglios em uma biografia?

Nasi: Sim, claro. Quando o Ira! ainda existia, o jornalista Alexandre Petillo estava preparando uma biografia sobre a banda. Com a suspensão das atividades, o livro também teve que ser cancelado. Mas o Petillo já tinha pesquisado muito material e coletado várias entrevistas. Seria um desperdício jogar todo esse trabalho no lixo. Por isso, vou aproveitar parte dessas pesquisas para lançar uma biografia minha. Ele mesmo escreverá. Mas só vou lançá-la quando todos os rolos jurídicos que estão tramitando forem resolvidos, pois assim evito tomar mais processos. Quando toda a verdade vier à tona, terei o enorme prazer de lançar essa biografia. E assim como a do Lobão, ela será esclarecedora e polêmica.

Visto Livre: Qual a sua avaliação sobre o rock nacional atual?

Nasi: Rock para adolescente sempre existiu. Mas o que é produzido hoje no Brasil tem um perfil muito “mingau de maizena”, “língua de sogra” e “brigadeiro”. O mainstream é composto de bandas cujos integrantes agradecem às mães quando ganham prêmios. Se ainda fosse em um tom de deboche, mas não, é a sério. Acho muito engraçado roqueiro agora ser exemplo de boa conduta. O rock é um gênero contestador e corresponde a outro tipo de comportamento.

Visto Livre: Você acha mais válido que os adolescentes escutem esse rock atual ou sertanejo universitário?

Nasi: Não entendo esse rótulo “universitário”. Na minha época, universitário andava largado, cabeludo, com a barba por fazer e não com uma roupa impecável e com pose de galã de novela. Mas tudo é válido. Só que, pessoalmente, não gosto da música e ela se equivale ao rock atual.

 

Visto Livre: Falando nisso, o Fabio Elias, ex-vocalista da Relespública – banda com a qual você já excursionou – virou cantor de sertanejo universitário. Qual sua opinião sobre essa mudança radical?

Nasi: Espero que, profissionalmente e financeiramente, ele consiga alcançar o que pretende com essa mudança de estilo. Afinal, ele é um grande compositor e um cantor talentoso. Pode ser que obtenha êxito. Só espero que tenha deixado a porta aberta para um dia poder voltar a tocar com a Relespública. Torço para isso. Acredito que em breve ele volte ao rock. Afinal, já tive outros parceiros musicais que negaram o rock e hoje se arrependem disso. Se for o caso do Fabio, ótimo. Quem sabe com a Reles voltando à ativa, nós voltamos a tocar juntos.

Visto Livre: Existe algo que ainda pretende realizar em sua carreira?

Nasi: Sim: a execução de uma turnê internacional. Não sei o motivo, mas com o Ira! fomos muito pouco para o exterior. Essa é uma lacuna que pretendo preencher na minha carreira solo.