MATE-ME, POR FAVOR! A HISTÓRIA SEM CENSURA DO PUNK ROCK

O ano era 1997, eu tinha 20 anos, trabalhava em Copacabana em um supermercado, tinha uma bandinha de punk rock e tirava minhas horas de almoço numa livraria próxima

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O ano era 1997, eu tinha 20 anos, trabalhava em Copacabana em um supermercado, tinha uma bandinha de punk rock e tirava minhas horas de almoço numa livraria próxima. E foi numa dessas idas a essa loja que deparei-me com um dos livros que mais me influenciaram e ampliaram não só meu conhecimento sobre música, mas também minha percepção do que é arte, de como a poesia pode ser subversiva e ajudou a consolidar algumas percepções. O livro? Mate-me, por favor! A história sem censura do punk rock. E é a dica da semana, o segundo vértice da minha formação cultural.

De cara, fui fisgado pelo visual. A primeira edição tinha uma capa laranja berrante e letras em preto no centro. Ora, eu era um garoto punk típico, ouvia as bandas, conhecia os clássicos do gênero e não ia muito além. Comprei o livro e eis que sou fisgado por seu texto. A proposta da obra era contar como essa vertente do rock surgiu; escrito pelo jornalista Legs McNeil, participante ativo da cena que surgia, a obra traçava um panorama de toda cena underground e off-Broadway de New York desde 1965 até a morte de Johnny Thunders, gutarrista fundador do New York Dolls – banda essencial da cena punk nascente, em 1992.

Mate-Me, Por Favor!
Mate-Me, Por Favor!

Porém, o que dava apelo emocional e até passional era o fato do texto ser contruido não de forma tradicional, filtrado por seu autor; como tudo é inovação e subversão no punk, o jornalista cria uma narrativa linear, mas partindo dos depoimentos colhidos ou na época, ou anos depois, dos próprios protagonistas da história. Então o que temos é uma narrativa emocionada e com todos os pontos de vista da mesma passagem. Como uma colcha de retalhos ou um mosaico, temos a construção de uma memória a partir da junção de fragmentos, que são cada versão do mesmo fato, formando um todo e dando ao leitor a oportunidade de construir sua visão dos fatos.

E quando falo que ampliou minhas percepções é porque nele pude ver como expressões artísticas tão distintas aparentemente tiveram relação direta. Descobri que foi quando Andy Wahrol, grande nome da pop art e do cinema experimental, decidiu empresariar e produzir a então desconhecida banda Velvet Underground que tudo teve início. Que foi pela influencia desse grupo que artistas como Iggy Pop começaram a tocar a criar a estética do que seria o visual punk. Vi que um grupo de poetas dividia seu tempo em saraus e bares como CBGB, poetas como Jimmy Caroll e Patty Smith (grande influência de Bono Vox). E vi como surgiu a primeira grande banda punk, The Ramones, e como toda essa cena foi esvaziada de seu significado e levada para Inglaterra e explodir no mundo tendo a frente a banda Sex Pistols.

Recomendado a fãs do gênero e aos que não conhecem, fica a dica de leitura da semana, para verem que corte moicano não foi invenção do Léo Moura, que piercing e tatuagem não é coisa de hipster e punk rock não é coisa de moleque delinquente. Semana passada o tema foram os quadrinhos sa Marvel, essa semana o punk rock, semana que vem será cinema. Até lá.

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@kajotha

(Todos os livros citados nas colunas podem ser baixados em www.livrosdoexilado.org e http://lelivros.in)