Técnico favorito à seleção sai em defesa de Vini Jr. após estádio inteiro berrar coros racistas

Mais uma rodada do campeonato espanhol, mais uma série de ofensas racistas contra Vini Jr.

Talvez incentivados pela falta de consequência de seus atos – os chefes do futebol no país seguem minimizando o racismo -, desta vez a vergonha supremacista não se limitou a um bando pequeno, como de costume.  Ela foi compartilhada por milhares de torcedores do Valencia que acharam correto berrar gritos de “mono” (macaco em espanhol) contra o brasileiro. 

Veja abaixo os momentos finais do jogo Valencia 1 x 0 Real Madrid, com a paralisação pelo coro racista e a expulsão de Vini Jr – sim, ele ainda foi expulso por discutir minutos depois com um jogador adversário.

O absurdo da situação fez o técnico do Real, Carlo Ancelotti, sair em defesa de Vini e cobrar providências da Federação Espanhola. Se há meses Ancelotti – o favorito da CBF para assumir a seleção brasileira – relativizava as ofensas sofridas pelo carioca de 22 anos, desta vez ele se recusou a comentar a partida, concentrando sua entrevista pós-jogo no show de horrores. 

“É inaceitável. A La Liga tem um problema que não é Vinicius, ele é a vítima. O que fazer? Não se pode jogar futebol assim. Eu diria o mesmo se tivesse ganhado É muito grave. Insultam Vinícius o tempo todo e depois dão vermelho para ele. Estou muito triste”, afirmou Ancelotti. 

“Estamos em 2023. A única maneira é parar o jogo. É o jogador (Vini) que recebe mais faltas e mais insultos. Eu disse ao árbitro que ia tirá-lo e ele me disse que devia continuar. Com o cartão vermelho, todo o estádio gritava macaco, macaco, macaco. Estou muito triste. Nunca me aconteceu algo assim. Ele é uma criança e queria continuar, mas nessas condições é complicado”, disse o italiano. Veja abaixo a entrevista de Ancelotti:

Quando parecia impossível piorar o cenário, o presidente da Liga Espanhola conseguiu fazer isso. Javier Tebas Medrano fez questão de passar uma reprimenda à vítima, em tom ainda ligeiramente ofendido, como se o erro fosse de Vini:

“Já que quem deveria não explica o que é e o que pode fazer @A Liga em casos de racismo, tentamos explicar-lhe, mas você não apareceu em nenhuma das duas datas combinadas que você mesmo solicitou. Antes de criticar e insultar @A Liga, é necessário que você se informe adequadamente @Vinijr”, escreveu ele no Twitter.

Ele concluiu de forma ofensiva, sugerindo que o brasileiro – um dos principais jogadores atualmente do mundo – seria “manipulado” e  não sabe do que fala:

“Não se deixe manipular e certifique-se de compreender plenamente as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos.

Veja a resposta rápida e afiada de Vini Jr:

Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar.

Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa…

Omitir-se só faz com que você se… https://t.co/RGO9AZ24IA

— Vini Jr. (@vinijr) May 21, 2023 O racismo sofrido por Vinícius é grave, violento e recorrente. Seus agressores gozam de impunidade. A federação espanhola diz que não pode tirar pontos times pelo racismo de suas torcidas, nem ao menos punir ofensores com jogos com portões fechados.

Recentemente, torcedores do Atlético de Madrid chegaram a “enforcar” um boneco de Vini Jr. em uma ponte da capital do país, antes de um jogo. Não surpreende que o atacante cogite mudar de time – e país. 

“O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista”, escreveu.

“Lamento pelos espanhois que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui.”

Edição: Rodrigo Durão Coelho