Intolerância: terreiros no Paraná são alvos de atentados e líderes denunciam racismo religioso

Duas casas de cultos de religiões de matriz africana foram alvo de atentados na última sexta-feira (19) em Curitiba e na Região Metropolitana. Um dos ataques foi contra a Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, na Cidade Industrial (CIC) e o outro atingiu a Casa Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara. Os líderes espirituais de cada uma das casas afirmam que trata-se de crime de racismo religioso. No entanto, tanto a Polícia Civil como a Militar registraram os crimes como dano ao patrimônio.

Segundo o Pai Wilson de Ogum, líder da Casa Espiritual Sete Caminhos de Luz, no CIC, o espaço foi totalmente destruído. “Tem portões e portas com cadeados e tudo o que nós tínhamos ali dentro foi destruído, com altar dos santos, o canto dos orixás, a parte dos atabaques e até os bancos que nós tínhamos foram todos queimados. Temos cortinas que separam os espaços e foi tudo queimado. Ainda existe a entrada ali no barracão, onde tratamos das nossas almas, também foi destruído”, relata.

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Wilson afirma que o suspeito de cometer o crime foi preso, mas após assinar o termo circunstanciado, logo após foi solto. “A pessoa entrou ciente do que estava fazendo. Tudo o que tínhamos ali foi destruído. Ele nos destruiu, mas não chegou a abalar a nossa fé. O que a gente quer é que ele pague o crime de racismo religioso”, diz.

Já na Casa de Terreiro de Umbanda Tia Maria, em Piraquara, a agressão aconteceu durante a ritualística. “Nosso terreiro foi apedrejado durante a ritualística no dia 19 de maio, na última sexta feira. Assim que começou a gira, nós escutamos alguns barulhos de pedras sendo jogadas no exaustor externo da casa, além de ouvirmos em cima do telhado. Algumas pedras chegaram acertar minha perna. Isso foi lá por 20h da noite”, conta a Mãe Adriana de Iansã.

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Adriana diz que esta agressão faz parte de um violência institucional contra as religiões de matriz africana. “Tudo isso foi apavorante. Como se não bastassem as tensões impostas pelas estruturas sociais que chegou a configurar um imaginário de que os terreiros podem ser atacados. Cada vez mais parece ser importante que a gente precisa reconhecer que esse mal que nos aflige não é tão pequeno, é institucional. Não é uma pessoa isolada, é isso maior, são estruturas históricas que legitimam essas agressões”, comenta.

Pedras foram atiradas durante a “gira” que acontecia dentro do terreiro, na sexta feira, 19, às 20h / Divulgação

Crime de racismo religioso

A advogada Carolina Crozeta que acompanha os dois casos informou que para o terreiro do CIC, foi feito boletim de ocorrência na Polícia Militar. A Policia Militar foi até o local, identificou a autoria do crime, foi feito um termo circunstanciado e a pessoa já foi solta. Já em Piraquara, o boletim de ocorrência foi feita na Polícia Civil que colocou o caso em investigação.

“O crime cometido nas duas casas foi o de intolerância religiosa e eu até prefiro chamar de racismo religioso porque a religião de matriz africana não sofre esses ataques por ser uma religião de minorias, mas sim  por ser uma religião de gente preta. O templo no CIC foi todo quebrado e destruído. O que tinha de móveis de madeira e tecido foram queimados”, conta.

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Mas, segundo informou a advogada, a PM disse a ela que não poderiam registrar como crime de racismo religioso, porque só podem fazer o que foi averiguado no local, que na visão deles é crime contra patrimônio.

O Fórum Paranaense das Religiões de Matriz Africana (FPRMA) acompanha as denúncias e emitiu nota de repúdio nesta segunda-feira. “Nossos atabaques não podem ser silenciados! É preciso um basta a todas estas formas de agressão, de intolerância, de racismo e de preconceito!”, diz o trecho final da nota.

O que dizem a Polícia Militar e Civil: 

A reportagem pediu informações à Polícia Civil sobre as investigações acerca dos ataques. De acordo com a assessoria, o atentado ocorrido em Piraquara está sendo investigado. 

Quanto ao ataque à Casa Terreiro Sete Caminhos de Luz, na CIC, a  Polícia Militar não retornou contato com a redação até o fechamento da matéria. 

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Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos