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Nova variante de HIV não afeta tratamento, segundo especialista

Mutação foi encontrada em três estados brasileiros: Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul

Foto: Reprodução / Pinterest
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Os atuais medicamentos antirretrovirais usados no tratamento de pacientes com HIV não precisam ser alterados após a descoberta de uma nova variante do vírus no Brasil. Segundo o Dr. Estêvão Portela, médico e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz, não há evidências de que a variante recém-identificada, denominada CRF146-BC, provoque alterações significativas na resposta ao tratamento disponível.

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“Até o momento, não há impacto previsto em relação ao tratamento do HIV. Não é possível definir se há alguma mudança em relação à agressividade do vírus, mas não deve haver grande alteração”, explicou o pesquisador em entrevista ao Diário Carioca.

A descoberta, conduzida pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, revelou uma nova forma recombinante de HIV, identificada a partir da análise de exames de sangue de pacientes nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia. Essa variante resulta da combinação genética dos subtipos B e C do vírus da Aids, ambos amplamente disseminados no Brasil.

Portela destaca que a ocorrência de formas recombinantes do HIV, como a CRF146-BC, não é incomum e faz parte de um processo natural do vírus, especialmente em pacientes expostos a mais de um subtipo.


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“As variantes recombinantes surgem quando um indivíduo é exposto a dois subtipos diferentes, como os subtipos B e C. Durante o processo de replicação, esses vírus se misturam, resultando em novas combinações genéticas”, detalhou o especialista.

Ele também enfatizou que essas descobertas são resultado de um trabalho contínuo de vigilância para identificar variantes recombinantes e monitorar possíveis alterações na resposta ao tratamento.

A variante foi categorizada como uma “circulating recombinant form” (CRF) após a identificação de três amostras independentes — duas no Rio Grande do Sul e uma no Rio de Janeiro — que não apresentavam relação aparente de transmissão entre elas.

“A diferença entre uma URF (unique recombinant form) e uma CRF é justamente o número de amostras identificadas; no mínimo três sem relações aparentes de transmissão entre elas. Assim, essa variante foi configurada como uma CRF”, explicou Estêvão.

O estudo sugere que a CRF146-BC pode estar circulando em outras regiões do Brasil, mas ainda não foi identificada devido à complexidade da detecção de genomas recombinantes.

Segundo a pesquisadora Joana Paixão Monteiro-Cunha, responsável pela pesquisa, “nem sempre é possível identificar genomas recombinantes, pois eles são vírus que possuem partes de um subtipo em uma região do genoma e partes de outros subtipos em outra. Para confirmar se é um recombinante, geralmente é necessária a sequência completa do genoma viral”.

Em resposta à nossa equipe, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou que, até o momento, não recebeu informações ou orientações do Ministério da Saúde sobre a nova variante do vírus HIV.

Já o Ministério da Saúde informou que “está atualizando e aprimorando a resposta ao HIV/AIDS no Brasil” e ressalta que as “diferenças genéticas não necessariamente resultam em mudanças significativas nos padrões de transmissão ou nas estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento”.

A Secretaria Estadual de Saúde da Bahia, em resposta ao site, afirmou que, “apesar da descoberta, a nova variante não altera a eficácia da terapia antirretroviral”. A pasta também destacou “a importância do diagnóstico precoce e do tratamento oportuno para melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade das pessoas que vivem com HIV”.

A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul não retornou até o fechamento da matéria.