Camponeses conquistam agroindústria para beneficiamento de ovos orgânicos no Rio Grande do Sul

Em meio às pedras preciosas, famílias do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) de Ametista do Sul (RS) conquistaram agroindústria para beneficiamento de ovos orgânicos e caipiras. A primeira leva de poedeiras colônias da Embrapa 051 chegou no mês de junho. Além da produção de ovos orgânicos esta raça permite também aproveitamento para o consumo da carne.

A conquista do entreposto e equipamentos se deu após intensa jornada de lutas e é uma alternativa de renda e sustentável que resulta em qualidade e manutenção da vida das famílias camponesas. A família de Utalino Fernandes Júnior, morador da linha Barreiro Grande, foi uma das beneficiadas. Para ele, a chegada das pintainhas é central para a permanência dos filhos na roça.

“A importância é que vai ter uma renda a mais pra nós, pros meus filhos, e com a renda incentiva mais aos filhos ficarem no campo, porque na cidade não é fácil. Estou fazendo de tudo pra ver se eles ficam aqui comigo, trabalhando no interior, no campo ”, afirma.

Leia mais: RS: cooperativa camponesa coloca o município de Seberi em evidência na pauta da agroecologia

Utalino tem pomar de laranja, 30 colmeias de abelha e agora conta com aviário para a produção de ovos caipira. “Tivemos em Porto Alegre acampados no Chocolatão por duas semanas pra conquistar os R $ 07 mil, naquela época era só pra fazer investimento. Nós conseguimos lutando e devagar fomos fazendo o aviário ”, fala o camponês sobre o processo de luta para conquistar Programa Camponês, que viabilizou o entreposto.

“O entreposto é a agroindústria, porque o agricultor e a agricultora não podem vender ovo. Mesmo que o aviário seja legalizado, sem ele passar por um mínimo de agroindústria, que é onde embala, classifica, vê se está trincado ou rachado e faz uma limpeza adequada no ovo ”, explica Debora Varoli, da coordenação do MPA na região.

Segundo ela, a construção dos aviários se dá desde o governo de Tarso Genro, quando houve o Programa Camponês para transição agroecológica, que foi uma linha de crédito desbancarizada destinada à agricultura familiar.


É no entreposto que fica o ovoscópio, equipamento que garantirá a sanidade dos ovos / Debora Varoli

A camponesa fuzileiros navais Ferri dos Santos, moradora da linha Santo Antônio, diz que a produção de ovos ovos é a realização de um sonho. “Sempre esse sonho de produzir produtos e a nossa produção já é orgânico. Todos os alimentos que nós plantamos e produzimos são produtos. Então essa é mais uma etapa que eu estou realizando. A criação das galinhas poedeiras é mais um sonho realizado ”, celebra.

Marines também acredita que esta conquista é uma forma de gerar renda com qualidade de vida para ela, o marido e os filhos.

:: Solidariedade camponesa faz a diferença na região da Campanha Gaúcha ::

“Eu gostaria muito, quando a produção der certo, que meu esposo saísse do garimpo. E eu tenho dois filhos que também trabalham pra fora, então eu gostaria de aumentar a produção e ter eles perto ”, desabafa a camponesa. João Maria, seu marido, é garimpeiro em Ametista, que como o nome da cidade exata, tem sua economia baseada na extração desta pedra.

A preocupação com a saúde do marido aumentou com a chegada da covid – 14, uma vez que os garimpeiros ficam expostos ao pó do basalto sem interior das furnas subterrâneas, tornando o sistema respiratório mais frágil. Por isso, é tão importante para Marines contar com a possibilidade de geração de renda a partir da agroindústria.

“É muito gratificante saber que o empenho, o esforço tá dando certo, estou muito contente e espero que dê tudo certo. É muito importante pra mim ”, completa.

Foram alojadas mil pintainhas divididas em dois aviários. As famílias de Marinês e Utalino ficam responsáveis ​​por garantir o cuidado e alimentação, toda a base orgânica, para as poedeiras. Segundo a Embrapa, durante todo o ciclo produtivo, cada galinha tem potencial para produzir 345 ovos.

:: Conheça os “ovos da felicidade”: orgânicos e frutos de bem-estar animal ::

Os ovos então são recolhidos e levados até o entreposto, onde são beneficiados, classificados e então embalados e comercializados em feiras e mercados.

A assistência técnica e a gestão da agroindústria é realizada pela Cooperbio, cooperativa ligada ao MPA à qualificada como duas famílias são associadas. Tanto Marinês quanto Utalino serão pioneiros na produção de ovos orgânicos a partir da agricultura camponesa familiar na região. “Tenho fé que vai dar certo porque a Cooperbio tá se esforçando bastante, trabalho fora do sério e a união faz a força. Aí acho que vai dar certo ”, finaliza Utalino.