Mãe e filha criam editora para lançar autoras brasileiras dos séculos XIX e XX

A Janela Amarela Editora abre espaço no mercado literário brasileiro para as autoras que tiveram suas vozes silenciadas ou esquecidas, assim como para os contemporâneos e independentes com boas histórias para contar

A Janela Amarela Editora abre espaço no mercado literário brasileiro para as autoras que tiveram suas vozes silenciadas ou esquecidas, assim como para os contemporâneos e independentes com boas histórias para contar.  Marca nativa digital, tem como compromisso a formação do leitor e da literatura nacional, resgatando obras e histórias de escritoras que ajudaram a construir a literatura no Brasil.   

Fundada por Ana Maria Leite Barbosa e Carol Engel, mãe e filha, durante a pandemia de covid-19, em 2020, a janela e o livro se transformaram em símbolos para as duas redesenharem suas trajetórias e recuperarem o trabalho de outras mulheres, que, no passado, romperam com padrões culturais vigentes.   

“Essas mulheres eram ativas na sociedade, em seu tempo. Publicavam em jornais e revistas. No entanto, suas histórias foram se perdendo ao longo dos anos. No momento em que se fala tanto em feminismo, nada mais natural do que trazer a história textos tão emblemáticos”, afirma Carol Engel.  

O catálogo da editora conta, até agora, com nove publicações, entre elas obras do século XIX, recuperadas em um verdadeiro trabalho de detetive, com pesquisas em bibliotecas, dentro e fora do Brasil. A partir dos originais, foram feitos estudos da língua portuguesa e conversas com especialistas, para criar formas de tornar os textos de fácil entendimento respeitando as convenções de suas autoras.  

Bichos e não bichos
Bichos e não bichos

Julia Almeida Lopes   

Um livro passado de geração em geração é a origem de Janela Amarela e da paixão de suas proprietárias por uma escritora: Julia Lopes de Almeida (1862-1934). Foi em casa que Ana Maria conheceu “A árvore”, obra que, desde 1932, pertencia a sua família. Quase nove décadas mais tarde, Ana Maria e a filha Carol resolveram dar nova dimensão ao trabalho pioneiro de Julia.  

“Em uma época em que a mulher era criada para o lar, Julia foi abolicionista, defensora da educação e dos direitos femininos e destacou-se ao abraçar a carreira de escritora, uma profissão majoritariamente masculina. Julia foi a única mulher a participar das reuniões que deram início a Academia Brasileira de Letras, mas apesar de trabalhar tanto pela instituição, não pode fazer parte simplesmente por ser uma mulher”, conta Ana Maria.  

No lugar de Julia, quem vestiu o fardão da ABL foi o poeta Filinto de Almeida, marido dela.  Os dois escreviam juntos, assinando como Julinto. Na época, em entrevista, Filinto chegou a comentar aque a estrela da família era a mulher.  

A cada nova obra descoberta, a Janela Amarela Editora revela que temas como violência doméstica, traição, gravidez indesejada, já eram urgentes desde aquela época. Passamos a palavra para Julia Lopes de Almeida e para outras escritoras que aguardam o reconhecimento