Anorexia e Bulimia: Faces da mesma moeda

Tamyris Torres estreia sua coluna no Diário Carioca: CONECTA; trazendo temas pertinentes a psicanálise e o universo feminino

Olá, leitor ou leitora do Diário Carioca! É um prazer estar aqui com vocês, estreando essa coluna nova. Aqui, eu trarei informações sobre o universo feminino, sempre pautado à luz da Psicanálise com enfoque na saúde mental, além de conversarmos também sobre literatura, livros de ficção e romances, aos quais eu tenho ocupado todo o meu tempo, tanto na leitura quanto em minhas escritas. 

Para resumir um pouco sobre mim, eu sou escritora, jornalista e psicanalista. Me chamo Tamyris Torres, tenho 34 anos e três lindas mocinhas, chamadas Julia, Fernanda e Amanda. 

Eu costumo fazer muitas pesquisas para começar a escrever um livro, pois sinto que isso ajuda a compor as personagens das minhas histórias, sempre mulheres. Desta vez eu tenho me debruçado no enfoque psicanalítico sobre a bulimia/ anorexia e lendo o trabalho de monografia de Maria Bernadete Reis Campolina, apresentado à UFMG, em 2014, apreendi muitas coisas importantes sobre os sintomas.

Para entender mais sobre anorexia/ bulimia, basta saber que elas são faces da mesma moeda. Enquanto a anorexia representa o ideal de magreza, transformando o corpo em capital, a bulimia seria o fracasso desse ideal. Ambas marcadas pela preocupação exagerada com o corpo e a comida, pessoas com esse transtorno perdem a noção de percepção da sua imagem corporal e desejam emagrecer a qualquer custo.

O medo de engordar vai fazer com que exista um culto exagerado pelo corpo, transformando-o em um objeto de consumo.

Conforme diz o trabalho, é muito comum a bulimia se iniciar logo depois de um episódio de anorexia. Ou seja, a mulher (poucos são os casos de homens bulímicos) terá saído de uma dieta super restritiva (anorexia) e a compulsão alimentar fará ela engordar e, consequentemente, iniciam-se as induções ao vômito para perda de peso. Podemos entender, portanto, que a mulher bulímica é uma anoréxica mal-sucedida.

Geralmente, as pacientes não se consideram doentes. A família que acaba levando a pessoa para uma consulta, pois dificilmente ela vai procurar por ajuda sozinha. Vale lembrar que as dietas da moda e os regimes restritivos em nada contribuem com isso, muito pelo contrário. As mulheres bulímicas e anoréxicas se colocam em constante risco de morte ao iniciar procedimentos como estes.

É um sofrimento que estenderá para a família inteira. O mais importante é entender que a questão principal não é o transtorno alimentar e sim a doença psíquica. Sendo assim, não adianta tratar apenas organicamente. Os nutricionistas e psicanalistas precisam entender que este é um trabalho multidisciplinar, trazendo benefícios para suas pacientes.

Sigmund Freud, criador da Psicanálise, vai nos dizer que a inclinação ao vômito é um sintoma da neurose de angústia, assim como as vertigens, náuseas, congestões e a fome incessante.

Àquelas meninas que comem porque sentem dor, felicidade, tristeza, angústia ou qualquer mal-estar, podem estar sinalizando, em suas ações, uma possibilidade de transtorno. O mais importante é os pais tomarem decisões diante do que estão vendo em casa e procurarem ajuda quanto antes.

Mencionando um pouco da monografia, vale dizer que “a bulimia reflete as dificuldades que as adolescentes tiveram com as suas ligações infantis com objetos parentais”. Ou seja, as dificuldades e conflitos familiares também podem fazer com que as meninas ou mulheres procurem aplacar a sua dor emocional com comida ou deixar de comer também. 

Procurar um psicanalista é um passo importante nesse caminho. E como a isso pode ajudar? A partir do momento que um paciente se coloca à disposição da análise, o trabalho do analista será de contribuir, com a sua escuta ativa, para que este indivíduo se escute com mais clareza. A principal ferramenta do psicanalista é o inconsciente, que abre e fecha constantemente. Pinçar esses significantes e trazer para o ato, permitirá que o paciente entre em contato com as suas questões e traumas de infância, desenrolando um novelo de lã ou o fio condutor de suas vidas. 

Por que as mulheres estão mais propensas a desenvolverem transtornos desse tipo?

Mulheres, independente de onde estejam, sofrem com seus corpos. Eu vejo, em casa, as minhas meninas já preocupadas com a roupa que vão vestir, com o tamanho da barriga, se vai ficar legal determinada maquiagem… Elas têm 11, 7 e 4 anos! 

Estamos acostumadas a crescer preocupadas com a nossa aparência, fruto de uma sociedade patriarcal que entende as mulheres como pedaços de carnes ambulantes. De alguma forma, tomamos isso para nós e nos preocupamos, por muitas vezes em excesso. Quando não estamos satisfeitas com o que vemos no espelho, transtornos mentais podem começar a acontecer. 

Mais uma vez citando Freud, a satisfação nunca é total. Sendo ela parcial, o Princípio do Prazer entrará em conflito com o Princípio da Realidade (nem todas as coisas podem ser plenamente completas em nossas vidas). Como se lida com isso é que faz a diferença: esse conflito, pelo qual o sujeito neurótico se encontra, vai fazer com que ele busque a satisfação, mas sempre se havendo com a exigência da realidade. 

Viver com essa busca do prazer traz sensações conflitantes e angustiantes. Mas, a busca é sempre parcial para haver relação social, ou seja, laço social. Imagina se todos os seres humanos resolvessem, de uma hora para outra, irem em busca de seus prazeres sem medirem as consequências disso? Quanto antes ele se dá conta disso, menos conflitante fica essa vivência e o contorno que esse indivíduo dará para os seus conflitos é que vai ajudá-lo a conviver bem com isso, como, por exemplo, a escrita, a pintura, a música, as poesias, leituras, as artes em geral costumam ser um bom atrativo para essa sublimação acontecer de forma saudável.

No meio do caminho sempre existirão os percalços e a mídia com o seu aparelho hegemônico social é um deles. As mulheres, por mais que isso venha diminuído, ainda são retratadas e padronizadas de uma maneira cruel. O show de horrores do Photoshop traz para nós, mulheres, a ideia de que temos o pior corpo do mundo… Vencer isso, tanto na esfera publicitária, quanto na subjetividade de cada uma de nós, é um trabalho que começou agora e desejo que um dia possa ser desmistificado totalmente, para o bem da saúde mental de nós próprias.

SOBRE A AUTORA

Tamyris Torres além de escritora, é Jornalista e Psicanalista. Autora de diversos artigos e publicações em revistas especializadas, trabalhou em algumas redações jornalísticas do país até iniciar sua jornada escrevendo as próprias histórias. O livro O Destino de Irene lança a autora nas histórias de ficção, misturando o melhor dos mundos das suas áreas de ocupação