Rio de Janeiro – A jurada Ana Paula Fernandes, responsável por avaliar os sambas-enredo no Grupo Especial do Carnaval do Rio, explicou os motivos das três notas não registradas em seu caderno de julgamento. Segundo ela, o barulho “insuportável” de camarotes e rodas de samba próximos ao módulo 4, onde estava posicionada, prejudicou sua concentração. Além disso, no último dia de desfiles, sofreu uma queda de pressão.
“O regulamento da Liesa exige que as justificativas sejam transcritas para a primeira página, o que eu não fiz. Não esqueci de dar notas, mas de transferi-las corretamente. O barulho era ensurdecedor, e eu, como novata, não esperava que isso me afetaria tanto. No terceiro dia, exausta, tive um mal-estar e cometi esse lapso terrível”, afirmou.
A jurada destacou que estudou os sambas por um mês e se preparou para a função. Segundo ela, não possui ligação com nenhuma escola, pois passou 14 anos fora do Brasil. “Antes de sair do país, tocava tamborim e outros instrumentos. Me afastei do carnaval, mas sempre valorizei essa festa”, disse.
Avaliação da Unidos de Padre Miguel gerou polêmica
A jurada também justificou a perda de 0,3 pontos da Unidos de Padre Miguel por “excesso de termos em iorubá” no samba-enredo. A escola criticou a decisão e afirmou que não abriria mão de exaltar sua identidade para agradar um “acadêmico não negro”. Ana Paula rebateu:
“A maioria das escolas exaltou o candomblé e a cultura afro-brasileira, e eu apoio essa reafirmação histórica. Meu papel, no entanto, era julgar letra e melodia. O manual de julgamento prevê descontos quando a comunicação é prejudicada. Em minha análise, alguns trechos dificultavam o entendimento do público”, explicou.
Ataques e ameaças após divulgação das notas
Ana Paula afirmou que, desde a apuração, tem recebido ameaças e ataques de intolerância religiosa e racismo. “Minha avó é mãe de santo, frequento terreiros desde bebê. Meu compromisso era ser justa e técnica”, defendeu-se.
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Ela pediu desculpas pelo erro na transcrição das notas, mas reiterou que agiu com neutralidade. “Entendo que escolas se sintam injustiçadas depois de um ano de trabalho. Mas minha obrigação era seguir os critérios técnicos, mesmo quando o resultado parece contradizer a emoção da avenida”, concluiu.
Entenda o caso: notas não registradas no Carnaval do Rio
- Barulho intenso no módulo 4 dificultou a avaliação da jurada.
- Queda de pressão impactou o julgamento no último dia de desfiles.
- Três notas não foram transcritas, gerando questionamentos.
- Unidos de Padre Miguel perdeu 0,3 pontos por termos em iorubá.
- Jurada rebateu críticas e defendeu critérios técnicos.
- Ameaças e ataques foram relatados após a divulgação das notas.