Rio de Janeiro – A segunda noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval carioca foi marcada pela celebração da ancestralidade africana. Na madrugada de terça-feira (4), Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Salgueiro trouxeram enredos que exaltaram a história e a cultura afro-brasileira. A Vila Isabel, última escola da noite, apostou em uma temática lúdica com criaturas fantásticas.
Unidos da Tijuca abre os desfiles com homenagem a Logun-Edé
Pouco após das 22h, a Unidos da Tijuca entrou na avenida com o enredo “Logun-Edé – Santo Menino que o Velho Respeita”, contando a história do orixá que transita entre os domínios de Oxóssi e Oxum. O público saudou a agremiação, que atravessou a Sapucaí com um desfile rico em elementos religiosos e culturais.
O abre-alas representava a gestacão sagrada do orixá, enquanto o último carro trouxe uma representação do morro do Borel, exaltando a juventude periférica preta. A porta-bandeira Lucinha Nobre definiu o desfile como uma verdadeira aula de ancestralidade. “Temos que nos valorizar e dar as mãos”, disse.
A cantora Anitta, uma das compositoras do samba-enredo, não compareceu ao desfile por compromissos profissionais.
Beija-Flor emociona com homenagem a Laíla e despedida de Neguinho
A Beija-Flor de Nilópolis, 14 vezes campeã do carnaval carioca, prestou uma homenagem ao lendário diretor de carnaval Laíla, falecido em 2021. O desfile também marcou a despedida do icônico Neguinho da Beija-Flor após 50 anos como voz oficial da escola.
No quinto carro alegórico, Laíla foi representado ao lado do carnavalesco Joãozinho Trinta, reforçando a história da agremiação. Um dos momentos mais impactantes foi a reedição do histórico “Cristo Preto”, de 1989, que desta vez surgiu com a faixa “Do Orun, olhai por nós”.
A porta-bandeira Selminha Sorriso destacou a importância de Laíla na luta por enredos afro-brasileiros. “Ele sempre brigou para trazer a matriz africana para o Sambódromo”, afirmou.
Salgueiro invoca a proteção espiritual
Já na madrugada de terça-feira, o Salgueiro levou à avenida o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, abordando a história da proteção espiritual. A comissão de frente representou um ritual de fechamento do corpo, enquanto a escola atravessou a avenida envolta em defumação de ervas.
Referências à história de africanos muçulmanos escravizados na Bahia e aos povos mandingas de Mali foram destaques do desfile. Para o diretor de carnaval Wilsinho Alves, o Salgueiro fez uma apresentação brilhante. “Nosso samba comunica-se bem com as pessoas e contagiou o público”, afirmou.
Vila Isabel encerra a noite com assombrações
Dona de três títulos no carnaval carioca, a Vila Isabel fechou os desfiles com o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, criado pelo carnavalesco Paulo Barros. Inspirada em histórias de terror e folclore, a escola levou para a avenida criaturas como lobisomens, vampiros e a Cuca.
Durante a paradinha da bateria, um drone em forma de abóbora de Halloween surpreendeu o público, mas acabou caindo após uma manobra. O ator José Loreto, que interpretou o diabo na comissão de frente, celebrou a participação. “A ideia é assustar e divertir ao mesmo tempo”, disse.
No carro alegórico “Quem Tem Medo de Bicho-Papão”, personagens infantis ajudaram a transformar o medo em diversão. O cantor Martinho da Vila, um dos baluartes da escola, atravessou a Sapucaí emocionado.