por Raíssa Araújo Pacheco – A luta pela liberdade e pela dignidade é uma herança que transcende gerações. Desde o período da escravizadão colonial até os dias de hoje, muitas batalhas foram travadas contra o racismo e a desigualdade. O que se aprende com essa história é que apenas uma organização coletiva e combativa conquista mudanças, sejam elas pequenas ou grandes.
O livro Raça, Classe e Revolução – A Luta pelo Poder Popular nos Estados Unidos, resgata o legado de movimentos revolucionários como o Partido dos Panteras Negras, os Jovens Senhores, as Boinas Marrons e outros grupos que, ao longo das décadas, desafiaram a opressão racial e as estruturas de classe nos EUA.
A obra, organizada por Jones Manoel e Gabriel Landi, e publicada pela Autonomia Literária, é uma contribuição significativa para reverberação dessa história.
Os textos presentes na coletânea, inéditos em português, revelam a profundidade da luta antirracista, que vai além das manifestações de mercado que frequentemente dominam o discurso contemporâneo.
Com uma crítica incisiva ao antirracismo liberal, o livro apresenta um antirracismo socialista que resgata o legado radical da Coalizão Arco-Íris, uma aliança entre diversos movimentos que buscavam solidariedade e resistência em um contexto de brutalidade policial e opressão.
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Os escritos dos Panteras Negras, de H.P. Newton e Fred Hampton, por exemplo, oferecem um olhar contundente sobre as injustiças sociais e raciais e sua íntima ligação com o capitalismo.
Os textos além de documentar a luta pela igualdade, exploram como a intersecção entre raça e classe molda a experiência da população negra nos EUA.
Além disso, as contribuições de outros grupos, como os Jovens Patriotas e o movimento chicano, ampliam o escopo da discussão, evidenciando outras camadas de complexidade.
O prefácio da obra apresenta uma análise poderosa sobre a democracia liberal burguesa e suas falhas. Nele, os organizadores abordam o racismo estrutural, a brutalidade policial e a história de violências contra as minorias, destacando as semelhanças com práticas de regimes totalitários.
A reflexão é essencial para entender como as narrativas sobre liberdade e democracia muitas vezes se omitem em relação às realidades vividas por aqueles que historicamente foram marginalizados.
Além de sua relevância acadêmica, o livro serve como um recurso prático para militantes e educadores, trazendo uma riqueza de informações contextualizadas por notas de rodapé que ajudam a situar os leitores em um período histórico complexo.
O material se torna uma ferramenta para entender o passado e alimentar o espírito da luta presente e futura por uma sociedade consciente e emancipada.
Publicado Originalmente em Outras Palavras
Raíssa Araújo Pacheco
Redatora do Outros Quinhentos. Formada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Assessorou movimentos sociais e entidades envolvidas na pauta de moradia e direito à cidade.